Entre Seia e os picos mais altos da Serra da Estrela, há uma aldeia onde o silêncio já foi sinal de abandono — mas que hoje acolhe quem procura sossego, autenticidade e natureza. Chama-se Póvoa Velha e, durante décadas, esteve praticamente desabitada. Hoje, é uma aldeia renascida.
A cerca de 900 metros de altitude, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, Póvoa Velha tinha tudo para desaparecer. Como tantas outras localidades de montanha, perdeu a maioria dos seus habitantes nas décadas de emigração.
As casas de granito ficaram vazias, entregues ao tempo. Até que, nos anos 90, Ana Seara e João Trabuco se cruzaram com a aldeia — e com o seu potencial.
Apaixonaram-se pelas ruas em pedra e decidiram restaurar algumas das casas. O gesto inspirou outros, e aos poucos a aldeia voltou a ganhar vida. Algumas casas tornaram-se segundas residências, outras passaram a acolher viajantes em busca de experiências autênticas.
Hoje, é possível dormir numa das Casas da Ribeira, alojamentos turísticos que mantêm a traça original, mas oferecem o conforto necessário para uma estadia tranquila. Paredes em pedra, lareira, cozinha equipada e sossego à porta.
A aldeia continua pequena, discreta, sem grandes monumentos. Mas é precisamente essa simplicidade que a torna especial. Caminhar pelas ruas, espreitar os jardins cuidados, ouvir apenas o som da água nas fontes ou do vento entre as árvores — tudo convida a abrandar.
E há sempre algo a descobrir por perto. No inverno, é o ponto de partida para desportos na neve. No verão, surgem praias fluviais e percursos pedestres que atravessam paisagens impressionantes.
Locais como o Covão dos Conchos, o Vale do Rossim ou a Lapa dos Dinheiros ficam a curta distância e valem o desvio.
Durante o ano, algumas tradições ainda se mantêm. O magusto junta moradores e visitantes no outono, e a festa da feijoca dá protagonismo a um dos ingredientes mais típicos da gastronomia local.
Também se recorda, de forma simbólica, a transumância, antiga prática pastoril da serra.
Antes de partir, vale a pena levar uma lembrança: um queijo artesanal, um pedaço de burel ou até um doce caseiro. Apoiar quem ali vive é também uma forma de manter o ciclo que trouxe de volta a vida à aldeia.
Em Póvoa Velha, não se vem à procura de atrações turísticas. Vem-se para descobrir como é possível recomeçar.
E perceber que, mesmo em lugares onde tudo parecia ter parado, há sempre alguém disposto a reerguer o que parecia esquecido.










