Escondida no verdejante vale do Bestança, a aldeia de Pias, em Cinfães, parece ter parado no tempo. Mas aqui, o tempo não pesa — molda a paisagem, atravessa as pedras das casas senhoriais, sussurra nas levadas e corre solto pelas margens do rio.
Quem visita Pias não encontra apenas um lugar bonito: encontra um território profundamente enraizado na terra, na água e na memória.
Situada entre os 150 e os 200 metros de altitude, na margem esquerda de um dos rios mais limpos da Europa, Pias vive em comunhão com o Bestança, que nasce a 1229 metros na Serra de Montemuro e percorre pouco mais de 13 quilómetros até se unir ao Douro em Porto Antigo.
O seu nome, dizem, deriva de “Bestias” — um termo antigo que evoca a fauna e flora selvagens que sempre o acompanharam. A vegetação ribeirinha é densa, as águas são cristalinas, e o silêncio só é interrompido pelo som natural de um rio livre.
Foi junto a este rio que Pias cresceu. A construção de uma ponte medieval marcou o desenvolvimento da aldeia, que prosperou sobretudo graças à agricultura. A proximidade da água tornou os terrenos férteis, os campos produtivos e os moinhos indispensáveis.
Até hoje, muitos dos antigos engenhos de pedra ainda se mantêm, testemunhos silenciosos de um passado em que o rio era força motriz da vida quotidiana.
O património edificado espelha bem essa história. Há ruas em lajes graníticas que serpenteiam entre muros antigos, capelas de pequena dimensão mas de grande simbolismo, alminhas à beira do caminho e casas senhoriais que convivem lado a lado com a arquitetura popular.
No centro da aldeia, destaca-se também o Centro de Interpretação Ambiental do Vale do Bestança, espaço dedicado à valorização e preservação da biodiversidade local, que convida a conhecer melhor o território que o rodeia.
Mas é sobretudo no dia a dia que Pias revela o que tem de mais genuíno: a cultura popular. As práticas agrícolas, as festas religiosas, o folclore e os sabores da cozinha regional mantêm-se vivos.
A gastronomia é rica, feita de produtos locais e de receitas passadas de geração em geração. Quem aqui chega pode saborear petiscos caseiros em restaurantes familiares, onde a frescura dos ingredientes fala mais alto.
A aldeia proporciona também várias atividades ao ar livre. Dos trilhos pedestres que serpenteiam ao longo do vale às visitas guiadas pelo património natural e arquitetónico, não faltam pretextos para explorar.
As pontes de pedra, os palheiros, os vestígios arqueológicos e as calçadas antigas são pedaços de história à espera de ser redescobertos.
Visitar Pias é, afinal, aceitar o convite para abrandar. É caminhar devagar, escutar o rio e perceber como a vida se organiza, com simplicidade e beleza, quando está próxima da terra. Não será um paraíso perdido — mas é, seguramente, um lugar ainda por descobrir.










