No encontro entre o rio Tornada e o Atlântico, mesmo à entrada da baía de São Martinho do Porto, ergue-se uma das formações naturais mais impressionantes do país: a Duna de Salir do Porto.
Com cerca de 50 metros de altura e mais de 200 metros de extensão, é considerada a maior duna de Portugal e uma das mais notáveis da Europa. Este gigante de areia, moldado pelo tempo e pelos ventos, guarda em si memórias geológicas com mais de 100 mil anos.
Parte da duna é constituída por granito e arenito vermelho, vestígios de antigas formações que indicam a sua origem fóssil. Estima-se que a sua dimensão atual tenha resultado da acumulação de areias provenientes das antigas lagoas entre Óbidos e Nazaré, transportadas pelo vento ao longo de milhares de anos.
O resultado é um relevo de características únicas, que se destaca na envolvência serena da praia fluvial de Salir do Porto.
Para chegar à duna, o percurso convida à caminhada. Ao atravessar os passadiços de madeira junto ao rio Tornada, que desagua na baía, vai-se revelando uma paisagem calma e resguardada. No topo da duna, a vista abrange toda a curva perfeita da baía de São Martinho, muitas vezes descrita como uma das mais belas do país.
Do lado do mar, a duna é protegida por escarpas e pinhais. Do lado da baía, porém, a sua estrutura está mais exposta e vulnerável, especialmente face à erosão provocada pela ação humana e pelos fenómenos naturais.
As autoridades locais alertam para a necessidade urgente de proteger este geossítio, cuja fragilidade aumenta com o pisoteio constante e a escassez de vegetação que ajude a fixar as areias.
A subida à duna é desafiante, especialmente por se fazer sobre areia solta e em inclinação acentuada. Poucos chegam ao topo sem pelo menos uma paragem para recuperar o fôlego.
A descida, por outro lado, é tentadora — mas nem sempre segura. Embora muitos não resistam à brincadeira, o impacto destas práticas tem consequências negativas no equilíbrio do ecossistema dunar.
Ainda assim, a visita a Salir do Porto continua a ser uma experiência memorável. Seja em família ou a sós, com tempo para explorar, este é um destino que conjuga paisagem, património e natureza num só lugar. A poucos quilómetros de Lisboa, a maior duna de Portugal espera por quem quiser vê-la com tempo, respeito e curiosidade.
Salir do Porto, freguesia do concelho das Caldas da Rainha, guarda outras memórias além da sua duna. Nas margens do rio e junto ao areal, encontram-se as ruínas da antiga Alfândega de Salir, que serviu também de estaleiro naval.
Segundo a tradição, terão ali sido construídas caravelas durante os reinados de D. Afonso V e D. João II, com madeiras vindas do Pinhal de Leiria. É provável que embarcações como a nau São Gabriel, da armada de Vasco da Gama, tenham tido aqui o seu início.
Além das ruínas, há ainda vestígios de pegadas de dinossauros e pequenas grutas, que enriquecem a paisagem com camadas de história e mistério.
Já nas redondezas, o Paul da Tornada — uma zona húmida protegida — é um importante refúgio de biodiversidade, com excelentes condições para a observação de aves e para caminhadas tranquilas.










