A língua portuguesa está cheia de expressões que usamos com naturalidade, muitas vezes sem sabermos de onde vêm. Algumas nasceram na Roma antiga, outras em batalhas, canções ou hábitos do dia a dia de séculos passados.
Reunimos 27 dessas expressões — com significados que talvez já conheça, mas com origens que provavelmente o vão surpreender.
1. Erro crasso
Um erro grosseiro. Vem do general romano Crasso, que ignorou as estratégias militares e foi derrotado pelos Partos — um erro fatal.
2. Ter para os alfinetes
Ter algum dinheiro de lado. Antigamente, os alfinetes eram artigos caros de adorno feminino — só quem tinha alguma poupança os podia comprar.
3. Do tempo da Maria Cachucha
Algo muito antigo. A expressão nasceu de uma dança espanhola popular no século XIX, adaptada em Portugal com o nome de “Maria Cachucha”.
4. À grande e à francesa
Viver com luxo. Vem do comportamento ostentoso dos oficiais franceses durante a primeira invasão napoleónica, em Lisboa.
5. Coisas do arco-da-velha
Algo inacreditável. Pode derivar de “Arco da Lei Velha” (do Antigo Testamento) ou de uma lenda sobre uma velha que vivia no arco-íris.
6. Dose para cavalo
Quantidade exagerada. Parte da ideia de que um cavalo precisa de doses maiores de medicamentos — ou de tudo, no geral.
7. Dar um lamiré
Dar o sinal de arranque. Vem de “lá, mi, ré”, notas usadas para afinar instrumentos — uma referência direta ao universo musical.
8. Memória de elefante
Memória prodigiosa. Os elefantes são conhecidos por não esquecerem nada — ou quase nada.
9. Lágrimas de crocodilo
Choro fingido. Os crocodilos libertam lágrimas quando comem, mas não por emoção — é apenas um fenómeno físico.
10. Não poder com uma gata pelo rabo
Estar muito fraco. O uso do feminino torna a imagem mais humilhante, embora, na prática, segurar uma gata pelo rabo não seja tarefa fácil.
11. Mal e porcamente
Fazer algo muito mal. A forma original era “mal e parcamente”, mas “porcamente” acabou por se impor no uso popular.
12. Rés-vés Campo de Ourique
Por pouco. Campo de Ourique escapou ileso ao terramoto de 1755, o que deu origem à expressão.
13. Ficar a ver navios
Esperar em vão. Associada ao regresso esperado (e nunca concretizado) de D. Sebastião, e também à partida da família real para o Brasil.
14. Andar à toa
Andar sem rumo. “Toa” é a corda com que um barco reboca outro — quem vai “à toa”, não tem controlo sobre a direcção.
15. Embandeirar em arco
Celebrar com euforia. Vem da Marinha, onde os navios decoravam os mastros com bandeiras nos dias de festa.
16. Cair da tripeça
Perder as forças com a idade. A “tripeça” é um banco de três pernas, comum nas zonas rurais, onde muitos adormeciam junto à lareira.
17. Fazer tábua rasa
Apagar tudo e começar de novo. Vem do latim tabula rasa, uma tábua de cera limpa, sem qualquer escrita.
18. Ave de mau agouro
Pessoa que traz más notícias. A origem está na prática romana de ler sinais nas aves para prever o futuro.
19. Verdade de La Palisse
Uma evidência óbvia. A expressão surgiu de um verso mal interpretado sobre o senhor de La Palisse, que dizia “antes de morrer, ainda vivia”.
20. Ter ouvidos de tísico
Ouvir muito bem. Antigamente, os doentes de tuberculose (tísica) eram considerados particularmente sensíveis, também no ouvido.
21. Comer muito queijo
Esquecer-se das coisas. Associava-se o consumo de queijo à perda de memória — ideia já desmentida, mas que sobrevive na expressão.
22. Acordo leonino
Acordo injusto. Vem das fábulas em que o leão fica com a maior parte — ou toda — da recompensa.
23. Que massada!
Desgraça ou contratempo. Referência à fortaleza de Massada, na Judeia, onde os Zelotes resistiram aos romanos até ao suicídio coletivo.
24. Passar a mão pela cabeça
Perdoar ou proteger. Prática associada à bênção judaica dada aos cristãos-novos, com a mão passada pela cabeça.
25. Gatos-pingados
Poucas pessoas. A origem pode estar em antigas torturas orientais, com pingos de óleo quente — em sessões presenciadas por poucos.
26. Meter uma lança em África
Enfrentar algo difícil. Remete para as perigosas expedições portuguesas no continente africano, vistas como actos de coragem extrema.
27. Queimar as pestanas
Estudar muito. No tempo das velas, era preciso aproximar os olhos da luz — e o calor podia literalmente queimar as pestanas.










