Escondida entre vales e encostas cobertas de vegetação, Casal Novo é uma das mais pequenas Aldeias de Xisto da Serra da Lousã — e também uma das mais discretas. Quem lá chega, sente que encontrou um segredo bem guardado no coração da serra.
Situada no concelho da Lousã, esta aldeia desenvolve-se ao longo de uma única rua principal e de algumas ruelas que conduzem a antigas eiras, onde se cultivavam legumes e cereais. Apesar da sua dimensão modesta, o cenário impressiona: as casas de xisto parecem crescer da encosta e, ao longe, avista-se o Castelo da Lousã recortado pela serra.
O nome “Casal Novo” resulta da junção do termo antigo “casal”, que designava um pequeno núcleo de habitação, com o qualificativo “novo”, provavelmente escolhido para o distinguir de outras povoações mais antigas da região.
Segundo a tradição oral, as primeiras famílias chegaram no século XVIII. Na altura, Casal Novo era apenas uma morada sazonal, usada nos meses mais quentes para aproveitar o clima e cultivar a terra. Com o passar dos anos, algumas famílias fixaram-se permanentemente e deram origem a um modo de vida comunitário, marcado por entreajuda nas tarefas agrícolas e convívio nos campos.
Como tantas outras aldeias serranas, Casal Novo sofreu com a emigração nas décadas de 1960 e 1970. O êxodo levou ao abandono de várias casas, que acabaram em ruínas. A aldeia entrou num longo período de silêncio, interrompido apenas por quem por ali passava em trilhos pouco batidos.
Nos últimos anos, esse silêncio começou a transformar-se. Algumas casas foram recuperadas, sobretudo para turismo rural, e Casal Novo voltou a receber quem procura mais do que uma visita apressada. Aqui é possível pernoitar e acordar com o som dos pássaros e das ribeiras que percorrem o vale.
O património material da aldeia é simples: a fonte, o tanque comunitário e, claro, as casas em xisto. Mas cada ruela guarda pormenores que revelam histórias de outros tempos. As portas gastas pelo tempo, as janelas minúsculas e a vegetação que se entranha nas paredes tornam o passeio por Casal Novo numa viagem pela memória.
Para os que gostam de caminhar, há duas rotas oficiais que passam pela aldeia: a Rota das Aldeias de Xisto e a Rota dos Serranos. Ambas com cerca de seis quilómetros, atravessam trilhos de terra batida e bosques densos, revelando vistas desafogadas sobre a serra.
Há também um percurso de BTT que liga Casal Novo à vila da Lousã, num trajeto de nove quilómetros marcado por paisagens frondosas e momentos de contemplação.
Quem preferir explorar de carro encontra nas redondezas várias outras Aldeias de Xisto, como o Talasnal, Chiqueiro, Vaqueirinho, Candal, Cerdeira ou Gondramaz. Cada uma tem a sua identidade, mas todas partilham o uso do xisto como elemento estruturante e a sensação de que o tempo passa devagar.
A Serra da Lousã tem ganho novas atrações que promovem o turismo sem descaracterizar a região. O baloiço do Trevim tornou-se símbolo da zona, mas há também molduras panorâmicas, letras gigantes e bancos estrategicamente colocados para se admirar a paisagem.
Visitar Casal Novo é, no fundo, um convite a conhecer um Portugal menos visível. Um lugar onde as pedras contam histórias, onde a serra se impõe sem pressa e onde o silêncio vale tanto como a paisagem.
É um daqueles sítios que ficam na memória, não pelos grandes monumentos, mas pela simplicidade com que nos faz parar.










