Muito antes de romanos, visigodos ou mouros, o território que hoje conhecemos como Alentejo e Algarve era habitado por um povo que deixou poucos vestígios, mas muitas perguntas.
Chamavam-se Cónios e terão vivido entre os séculos VIII a.C. e I d.C., deixando para trás uma escrita misteriosa, relações complexas com os vizinhos e uma identidade que resistiu até à chegada de Roma.
Os Cónios destacam-se no panorama pré-romano da Península Ibérica não apenas pela sua antiguidade, mas por sinais de sofisticação cultural. Entre os mais enigmáticos está a chamada escrita do sudoeste — o primeiro sistema de escrita conhecido na região, ainda hoje por decifrar na totalidade.
Gravada em pedras e metais, revela nomes, referências religiosas e palavras ligadas à guerra, numa língua que intriga arqueólogos e linguistas há décadas.
A origem deste povo permanece incerta. Algumas teorias apontam para uma ligação a populações indo-europeias, outras aproximam-nos dos antigos lígures ou dos iberos autóctones.
Sabe-se, no entanto, que os Cónios mantinham contacto com culturas vizinhas — como os Tartessos — e com povos do Mediterrâneo, como os Fenícios e Cartagineses, com quem trocavam metais, cerâmica e outros bens.
Apesar disso, a organização cónia era maioritariamente rural. As aldeias eram compostas por casas de pedra e barro, sem grandes fortificações, e a vida girava em torno da agricultura, da pastorícia e da pesca.
A estrutura social parecia assentar em tribos independentes, lideradas por chefes locais, com alianças e rivalidades pontuais. Não havia um Estado centralizado, mas uma rede de comunidades com traços culturais comuns.
Na religião, pouco se sabe, mas acredita-se que os Cónios veneravam forças ligadas à natureza e à fertilidade. Alguns dos seus locais de culto foram mais tarde reutilizados pelos romanos — como acontece nas ruínas de Milreu, em Faro, e de Pisões, em Beja.
O contacto com os Lusitanos, que habitavam mais a norte, foi muitas vezes violento. A cidade cónia de Conistorgis, de localização ainda incerta, terá sido destruída durante um desses confrontos.
Mas o maior impacto viria com a chegada de Roma. A partir do século II a.C., os Cónios foram gradualmente integrados no mundo romano, perdendo autonomia mas deixando marcas duradouras.
Hoje, o legado cónio sobrevive sobretudo nas estelas com inscrições da escrita do sudoeste, espalhadas por museus e campos do sul do país.
Mas há também ecos subtis em tradições locais, festas ligadas aos ciclos agrícolas e lendas que resistem ao tempo.
Os Cónios foram um povo que soube dialogar com culturas vizinhas, sem deixar de afirmar a sua identidade.
Redescobrir a sua história é olhar para um passado profundo que ajuda a compreender melhor as raízes culturais do sul de Portugal — e, por extensão, do país que veio a nascer séculos depois.










