Entre campos dourados e ribeiras tranquilas, a cerca de 15 quilómetros de Alcácer do Sal, esconde-se Santa Susana, uma aldeia pequena em dimensão, mas grande na memória e no carácter.
Com menos de uma centena de habitantes, é um daqueles lugares que parecem existir fora do tempo — onde cada fachada conta uma história e cada esquina guarda uma tradição.
À primeira vista, é a arquitetura que mais se destaca. As casas térreas, caiadas de branco e rematadas com barras azuis, formam um cenário harmonioso e único. Diz-se, até, que foi aqui que nasceu o famoso “azul de Santa Susana”, cor que hoje é quase uma assinatura da paisagem alentejana.
E, a cada dois anos, são os próprios moradores que se encarregam de renovar esse azul, pintando coletivamente as casas — mesmo aquelas desabitadas.
Dez ruas, muitas histórias
Santa Susana tem apenas dez ruas. Mas bastam para revelar um modo de vida simples, marcado pela proximidade entre vizinhos e pelo respeito pela terra. A ausência de comércio local não desanima quem ali vive — pelo contrário, reforça o espírito comunitário que tanto impressiona quem visita.
A Igreja Matriz, o cruzeiro e o pequeno teatro comunitário, onde se organizam sessões de yoga e concertos pontuais, são alguns dos pontos de paragem obrigatória.
Mas a verdadeira riqueza está no tempo passado a conversar com os habitantes, sobretudo os mais velhos, que partilham memórias e lendas com uma sabedoria tranquila.
Entre essas histórias, destaca-se a da própria Santa Susana, uma jovem pastorinha que, segundo a tradição oral, terá sido queimada pela Inquisição, morrendo a rezar. O seu nome, carregado de simbolismo, permanece vivo na fé e nas festas da aldeia.
Tradições, sabores e silêncio
O Madeiro de Natal é uma das tradições mais sentidas. A lareira da aldeia é acesa na véspera de Natal e mantém-se acesa até ao Ano Novo, criando um ponto de encontro entre gerações.
Já em maio e agosto, as festas populares enchem as ruas de cor e movimento, num dos raros momentos em que Santa Susana se enche de visitantes.
Quem quiser pernoitar ou provar a gastronomia local encontrará tudo num único espaço — o restaurante e alojamento da aldeia, onde se serve arroz de cabidela, açorda de alho e outras iguarias regionais. O artesanato também tem presença, com rendas, bordados e pequenas peças em cortiça ou madeira.
Uma aldeia entre ribeiras e retiros
A história da região é antiga. Foram encontrados vestígios da Idade do Bronze, como machados e até uma pulseira de ouro maciço.
Mais recentemente, Santa Susana teve ligação à exploração de carvão na Mina da Ordem, e nasceu como alojamento para trabalhadores agrícolas que, rendidos ao lugar, acabaram por ali ficar.
Hoje, a tranquilidade atrai também quem procura momentos de introspecção. A poucos quilómetros da aldeia, encontra-se o centro budista tibetano Thubten Phuntsog Gephel Ling, que organiza retiros e workshops num ambiente de paz e contemplação.
Santa Susana não precisa de ser grande nem de ter muito. A sua beleza está na autenticidade com que se preserva. E é isso que faz dela um lugar onde vale a pena parar — com tempo e atenção.










