No concelho de Ovar, distrito de Aveiro, a Igreja de Santa Marinha de Cortegaça tem vindo a afirmar-se como um dos exemplos mais distintos do património religioso do norte do país.
A razão é imediata ao olhar: a fachada completamente revestida de azulejos azuis e brancos, com figuras de santos e cenas bíblicas, não passa despercebida a quem ali chega.
O edifício que hoje se visita foi construído entre 1910 e 1918, numa iniciativa liderada pelo então pároco Manuel Pereira, num período em que a antiga igreja – cujas origens remontam ao século XII – se encontrava em avançado estado de degradação.
A sua reconstrução foi financiada por uma combinação de donativos locais, apoios estatais e rendimentos paroquiais.
A fachada é uma das mais fotografadas da região. Os azulejos, produzidos na Fábrica Aleluia de Aveiro, representam figuras como São Pedro, São Francisco de Assis ou o Coração de Jesus, e contribuem para o impacto visual do conjunto.
A composição inclui ainda duas torres sineiras e três portas com vitrais, características que sublinham a influência neorromânica e neoclássica do projeto.
No interior, a nave única está acompanhada por seis capelas laterais interligadas. O teto abobadado exibe frescos com os doze apóstolos e os quatro evangelistas.
A capela-mor, separada por um arco triunfal, destaca-se pelo retábulo e pelos painéis de azulejo que retratam episódios como A Última Ceia e A Pesca Milagrosa, restaurados em 2017. A estas imagens juntam-se outras como A Anunciação e A Visitação, visíveis nas paredes laterais.
Em 1993, a igreja foi dotada com um órgão de tubos construído pela oficina Dinarte Machado. Com dois teclados, pedaleira e 22 registos, veio reforçar o papel da igreja não apenas como local de culto, mas também como espaço cultural.
Além da igreja em si, merece destaque o conjunto de jazigos do antigo cemitério, situados nas imediações e também classificados como monumento de interesse público desde 2013.
São testemunhos relevantes da arte funerária dos séculos XIX e XX, com trabalhos em mármore e granito que refletem uma tradição escultórica com forte expressão regional.
Hoje, a Igreja de Cortegaça é ponto de paragem obrigatória para quem percorre a região. À sua função litúrgica junta-se um crescente interesse turístico, motivado pela singularidade arquitetónica e pelo estado de preservação do conjunto.
Um exemplo claro de como o património local pode afirmar-se, discretamente, no mapa cultural do país.










