É quase automático: alguém espirra e logo se ouve um “santinho!”. Mas de onde vem esta expressão tão típica do quotidiano em português?
Na língua portuguesa, “santinho!” é uma das reações mais comuns quando alguém espirra. Dizemo-lo por cortesia, hábito ou até brincadeira.
No entanto, por trás deste gesto aparentemente simples, esconde-se uma história antiga marcada por superstições, doenças e tradições religiosas.
Espirros, peste e proteção divina
Uma das explicações mais aceites para a origem de “santinho!” remonta aos séculos XIV e XV, época em que a peste assolava a Europa.
O espirro era visto como um dos primeiros sinais da doença – e, por isso, causava alarme imediato.
Dizer “santinho!” ou “Deus te salve!” tornava-se, então, um gesto de protecção. Acreditava-se que, ao espirrar, a alma ficava momentaneamente vulnerável, ou até que o coração podia parar por um instante.
A invocação de bênçãos era, por isso, uma forma de afastar o mal e pedir saúde.
O santo do dia
Outra teoria aponta para uma tradição religiosa mais específica: invocar o santo do dia em que se dava o espirro.
Dizia-se, por exemplo, “Santinho António!”, se fosse 13 de junho. Com o tempo, a expressão foi-se encurtando e generalizou-se o simples “santinho!”.
Do sagrado ao social
Hoje, a expressão perdeu quase por completo o seu peso religioso. Diz-se “santinho!” por educação, simpatia ou mesmo em tom de brincadeira – especialmente se o espirro vem acompanhado de uma situação insólita ou cómica.
O uso também pode ter carga irónica: por exemplo, quando se diz “santinho!” a alguém que acaba de fazer algo malicioso, como quem insinua que a pessoa não tem nada de santa.
E lá fora, como se reage a um espirro?
Cada cultura tem a sua forma de reagir ao espirro. Eis algumas expressões populares noutras línguas:
- Inglês: Bless you! (Deus te abençoe)
- Espanhol: Salud! ou Jesús!
- Francês: À tes souhaits! (Aos teus desejos)
- Italiano: Salute! ou Felicità!
- Alemão: Gesundheit! (Saúde)
- Japonês: Odaijini! (Cuida-te bem)
- Árabe: Yarhamuk Allah! (Deus tenha misericórdia de ti)
Apesar das diferenças culturais, a maioria das expressões revela um gesto de cuidado, afeto ou simpatia.
Uma palavra pequena com muita história
“Santinho!” é mais do que um simples reflexo social – é uma herança linguística que atravessou séculos.
Mesmo sem sabermos, continuamos a ecoar antigas crenças e práticas de tempos em que o espirro era levado muito a sério.
É esse cruzamento entre superstição, religião e gentileza que faz desta expressão algo tão característico do português.











Outra versão: Na Idade Média, as pessoas acreditavam que, quando se espirrava, a alma saía do corpo ficando à mercê do diabo. Então invocavam-se os santos, ou um santo, para acudir a essa alma por breves segundos desprotegida.