Durante apenas 25 dias, em 1919, o Porto assumiu um papel inesperado na história contemporânea de Portugal: tornou-se o centro de um movimento monárquico que tentou reverter a República. Foi um episódio breve, mas que espelha bem a instabilidade que marcava o país no início do século XX.
A chamada Monarquia do Norte não foi apenas uma excentricidade regionalista. Representou uma tentativa organizada de restaurar a monarquia, menos de uma década após a sua queda, num contexto marcado pela guerra, pelo descontentamento popular e pela fragilidade das instituições.
Um país em crise
A Primeira República, instaurada em 1910, enfrentava sérias dificuldades. A entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial agravara a situação económica e social. A instabilidade política era permanente, com governos sucessivos e poucas soluções.
O assassinato de Sidónio Pais em 1918, depois de ter ensaiado uma presidência autoritária, mergulhou o país numa nova crise. Foi neste cenário que os monárquicos viram uma oportunidade.
Um velho general e um rei ausente
O rosto da insurreição foi o general Paiva Couceiro, veterano das campanhas coloniais e figura de destaque no Integralismo Lusitano — um movimento que defendia uma monarquia tradicional, descentralizada e católica.
Couceiro liderou a tomada de pontos estratégicos no Porto, onde a 19 de janeiro foi proclamada a restauração da monarquia. A bandeira azul e branca voltou a ser hasteada e formou-se uma junta governativa.
Do outro lado da Mancha, D. Manuel II, o último rei de Portugal, manteve-se em silêncio oficial. Exilado em Inglaterra desde 1910, recusou apoiar abertamente a revolta, embora tivesse contacto com os seus líderes.
O seu distanciamento foi decisivo: sem a figura real a legitimar o movimento, a Monarquia do Norte perdeu força política e simbólica.
Uma revolta com pouco fôlego
A adesão ao movimento foi limitada, sobretudo ao norte do país. Braga, Guimarães e Viana do Castelo juntaram-se à causa, mas as tentativas de alastrar a revolta falharam.
Lisboa permaneceu fiel à República e respondeu com firmeza. Um dos confrontos mais significativos ocorreu em Monsanto, onde monárquicos se barricaram durante dias.
No campo internacional, Couceiro tentou obter reconhecimento diplomático, mas sem sucesso. Nenhuma potência estrangeira quis interferir no conflito interno português, e a monarquia restaurada ficou isolada.
O fim anunciado
A 13 de fevereiro, forças republicanas lideradas pelo capitão Sarmento Pimentel entraram no Porto sem resistência armada, depois de negociações com Paiva Couceiro. Os revoltosos retiraram-se para Espanha e a bandeira da República voltou a ser içada.
Apesar do fracasso, o episódio teve consequências. A Monarquia do Norte foi a última tentativa séria de derrubar a República pela força.
A sua derrota uniu os principais partidos republicanos e reforçou a legitimidade democrática do regime, confirmada nas eleições de junho desse ano.










