Na Rua da Junqueira, junto ao Tejo, ergue-se o Palácio das Águias – um edifício que guarda mais de três séculos de história, mas que hoje se encontra fechado e em visível degradação.
Classificado como imóvel de interesse público desde 1978, é um dos exemplos mais notáveis de património esquecido na capital.
A sua origem remonta a 1713, quando Manuel Lopes Bicudo, advogado da Casa da Suplicação, mandou construir uma casa de campo onde pudesse desfrutar de tranquilidade e contacto com a natureza.
O nome deve-se às duas esculturas de águias no portão principal, símbolos que, ainda hoje, se destacam na fachada.
Em 1731, a propriedade passou para Diogo de Mendonça Côrte Real, secretário de Estado de D. José I, que chamou o arquiteto Carlos Mardel para ampliar e embelezar o palácio.
Mardel, responsável por obras como o Aqueduto das Águas Livres e a Basílica da Estrela, deixou a sua marca no edifício, que se tornou um exemplo da arquitetura barroca lisboeta, com fachada simétrica, colunas, frontões e balaustradas.
No interior, destacavam-se painéis de azulejos com cenas mitológicas, históricas e campestres, uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição e um retábulo de talha dourada.
O palácio conheceu sucessivos proprietários, adaptações e períodos de maior ou menor cuidado.
No século XIX, foi comprado por José Dias Leite Sampaio, mais tarde visconde da Junqueira, que lhe conferiu um toque de inspiração italiana e reforçou a presença das águias no portão.
Em 1918, o médico Manuel Caroça adquiriu-o e recuperou-o, transformando-o num museu privado com uma coleção de arte e antiguidades.
Em 1937, abriu ao público, mas, após a morte do proprietário, o espaço foi vendido ao Estado, em 1942, com a condição de ter um uso cultural ou educativo – objetivo que nunca se concretizou.
Nas décadas seguintes, o abandono agravou-se. O edifício foi saqueado, vandalizado e ocupado ilegalmente.
Os jardins perderam o traçado original, o telhado cedeu em várias zonas e o interior sofreu danos irreparáveis.
Hoje, o Palácio das Águias permanece fechado, visível apenas através das grades que o separam da rua.
Continua a ser parte da paisagem urbana da Junqueira, mas também um testemunho silencioso de como o património histórico pode desaparecer não pela força do tempo, mas pela ausência de decisão e cuidado.










