Ao longo da sua história, a língua portuguesa foi absorvendo vocabulário de muitas outras línguas. O persa é uma delas – e talvez surpreenda saber que algumas palavras comuns no português contemporâneo começaram por ser ditas a milhares de quilómetros de distância.
O persa (também chamado farsi) é falado por mais de 100 milhões de pessoas, sobretudo no Irão, Afeganistão e Tajiquistão. É uma língua indo-europeia, como o português, o inglês ou o francês, e possui uma tradição literária com séculos de história.
A influência do persa no português aconteceu, na maioria dos casos, por via do árabe – a língua que dominava grande parte da Península Ibérica durante o período da presença islâmica.
Através do árabe, várias palavras de origem persa chegaram ao vocabulário português. Muitas entraram na língua durante a Idade Média, outras chegaram com as viagens à Índia e ao Médio Oriente. Eis dez exemplos curiosos:
Açúcar
Deriva do árabe as-sukkar, que tem origem no persa šakar, este por sua vez vindo do sânscrito śárkarā. O açúcar foi um bem precioso em Portugal, especialmente durante os Descobrimentos.
Laranja
Vem do árabe nāranj, com origem no persa nārang. Curiosamente, em vários países (incluindo o Irão), a palavra “Portugal” tornou-se sinónimo de “laranja”, por ter sido o nosso país a introduzir este fruto na Europa.
Pato
Chega ao português pelo árabe baṭṭ, com raiz no persa bat. É um exemplo de como os nomes de animais também viajaram entre culturas e línguas.
Xadrez
Vem do árabe aš-šaṭranj, adaptado do persa šatrang e, antes disso, do sânscrito caturaṅga. Foi através dos árabes que o jogo — e a palavra — chegaram à Península Ibérica.
Cheque
Embora a forma moderna venha do inglês check, a origem remota está no persa šāh (“rei”), que passou pelo árabe šāh e pelo francês échec. Em termos etimológicos, “cheque” e “xeque” partilham a mesma raiz.
Pijama
Do inglês pyjama, que veio do hindi pāy-jāma, este derivado do persa pāy-jāma (“roupa para as pernas”). Foi nas viagens ao subcontinente indiano que portugueses e britânicos trouxeram este conceito para a Europa.
Azul
A palavra vem do árabe az-zulayj, que terá origem no persa lažvard, nome de uma pedra semipreciosa de cor azul. Daqui deriva também “azulejo”, ligado à cor predominante dessas peças decorativas.
-stão
Este sufixo, usado em nomes como “Paquistão” ou “Afeganistão”, vem do persa -stān, que significa “terra” ou “lugar”. Ainda hoje se usa em topónimos de vários países asiáticos.
Magia
Através do grego e do latim, esta palavra tem origem no persa maguš, termo associado a sacerdotes e praticantes de rituais religiosos.
Mago
Também deriva de maguš e chegou ao português via grego (magós) e latim (magus). Na tradição cristã, passou a designar os “reis magos”, mas o seu sentido inicial era mais próximo de “feiticeiro” ou “sábio”.
A história destas palavras é um testemunho das pontes linguísticas que se foram construindo entre povos distantes. E mostra como a língua portuguesa, sendo nossa, é também o resultado de muitos encontros e viagens.










