No Alentejo, as palavras não servem apenas para comunicar: contam histórias, guardam memórias e desenham paisagens.
Entre planícies douradas e conversas à sombra de uma azinheira, nasceram expressões que revelam tanto da terra como das gentes que nela vivem.
São ditos simples, mas carregados de significado – uma sabedoria que se transmite de geração em geração, com o sotaque tranquilo de quem sabe esperar.
Estas vinte expressões mostram o lado mais genuíno da linguagem alentejana. São pedaços de vida em forma de frase feita – e vale a pena conhecê-los.
Expressões típicas do Alentejo
- Apressado come cru
Serve de aviso: quem corre demais, acaba por não fazer as coisas como deve ser. - Está-se bem é à sombra da azinheira
Não há melhor lugar do que aquele onde se está confortável – sobretudo se for fresco e calmo. - Morrer na praia
A frustração de falhar mesmo quando o objectivo já estava quase alcançado. - Não há rosas sem espinhos
As coisas boas da vida vêm sempre com desafios. - Tirar o cavalinho da chuva
É melhor desistir: aquilo que se quer, não vai acontecer. - Armar ao pingarelho
Comportar-se de forma afectada ou pretensiosa, só para impressionar. - Estar nas sete quintas
Estar muito bem, completamente satisfeito com a situação. - Meter água
Cometer um erro ou fazer asneira. - Comer com os olhos
Desejar algo apenas por o ver – especialmente comida. - Fazer um frete
Fazer algo contrariado, sem vontade nenhuma. - Ir com os porcos
Perder completamente uma oportunidade ou falhar rotundamente. - Levantar a lebre
Revelar algo antes do tempo, muitas vezes sem querer. - Pôr a carroça à frente dos bois
Fazer tudo ao contrário ou sem pensar bem no assunto. - Rala, peixe
Expressão usada para minimizar um problema ou afastar alguém. - Ser como o azeite
Diz-se de quem está sempre em destaque, mesmo quando não é suposto. - Ter pingo no nariz
Ter a mania ou mostrar arrogância. - Chutar para canto
Evitar lidar com um problema ou empurrar uma decisão com a barriga. - Fazer-se ao caminho
Começar uma tarefa com vontade ou partir para uma nova etapa. - Ter mais olhos que barriga
Querer mais do que se pode – muitas vezes no prato, mas não só. - Cortar o bico ao prego
Resolver uma situação complicada com jeito ou esperteza.
Estas expressões não são apenas palavras; são traços da identidade alentejana, espelho do seu humor, calma e visão prática da vida. Ouvi-las é, em certa medida, entrar em contacto com uma filosofia que privilegia o essencial e o bem-viver.
Entender o que se diz no Alentejo é mais do que perceber a língua: é compreender um modo de estar, um ritmo e uma paisagem humana que enriquecem o património cultural português.










