A língua portuguesa é uma fonte inesgotável de criatividade. Ao longo do tempo, enchemo-la de expressões feitas para tornar mais coloridas as conversas do dia a dia.
O curioso é que muitas destas expressões, quando levadas à letra, roçam o absurdo – e ainda assim, usamos todas sem pensar duas vezes.
Hoje, damos um passeio descontraído por 16 dessas expressões que, se fossem interpretadas à risca, podiam dar origem a cenas dignas de um filme surrealista. Irónico? Sim. Inútil? Nem por isso.
1. Valer a pena
Dizer que algo “vale a pena” é aceitar que o esforço compensa. Mas por que raio dizemos “pena”? Se calhar porque carregar uma “pena” custa pouco… ou talvez faltemos às aulas quando isso foi explicado.
2. Ter lata
Ter “lata” é abusar da paciência alheia. Literalmente, é só possuir um recipiente metálico. À falta de melhor explicação, continuamos a associar atrevimento a embalagens.
3. Sentir dor de cotovelo
A inveja é feia, e bater com o cotovelo dói. Esta expressão junta os dois males num só pacote, embora o dedo mindinho contra uma quina seja bem mais convincente como símbolo de sofrimento.
4. Fazer uma tempestade num copo de água
Dramatizar por pouco. Mas se estivermos a suar em bica em pleno agosto, talvez esse copo de água seja tudo menos insignificante.
5. Estou-me a passar
“Passar” de onde para onde? De juízo para descontrolo? Seja como for, ninguém se passa fisicamente, mas a expressão fica no ouvido.
6. Tirar o cavalinho da chuva
Mesmo sem quinta ou cavalo, lá usamos isto quando alguém tem expectativas pouco realistas. Talvez por hábito. Ou por tradição. Ou só porque sim.
7. Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar
Faz sentido: mais vale o certo do que o incerto. Mas convenhamos… quantas vezes já segurou um pássaro na mão? Pois.
8. Fazer com uma perna às costas
A imagem é ridícula. Se alguém tentasse fazer seja o que for com uma perna às costas, o mais provável era uma ida às urgências — não um feito exemplar.
9. Passar pelas brasas
O que soa a churrasco é afinal um breve cochilo. A origem? Talvez um fogo que arde sem se ver… ou só um português a inventar.
10. Muitos anos a virar frangos
Expressão que sugere experiência, mesmo para quem nunca viu um espeto. Quem diria que os assadores de frango são símbolo de sabedoria prática?
11. Apanhar ar
Sair para apanhar ar é saudável. Mas a imagem literal de alguém a “apanhar” ar num saco… não resulta muito bem, a não ser numa feira de truques.
12. Bater as botas
Morrer, sim. Mas parece mais uma expressão para quem frequenta sapateiros. Ou talvez para sapateiros que já cá não estão.
13. Procurar uma agulha num palheiro
Quem é que teve esta ideia? Levar uma agulha para um palheiro já é questionável. Perder e procurar, então, é puro masoquismo.
14. Encher chouriços
É passar tempo à espera sem fazer nada útil. Literalmente, seria bem mais interessante ver um jornalista a encher chouriços do que a falar sobre o nevoeiro na Madeira.
15. Barriga a dar horas
A nossa barriga tornou-se um relógio nacional. E como em Portugal se janta tarde, o ponteiro da fome anda quase sempre adiantado.
16. Chorar sobre leite derramado
Se o leite acabar antes dos cereais estarem molhados, talvez chorar seja justo. Principalmente quando o supermercado só abre dali a duas horas.
A criatividade popular não tem limites – nem sempre tem lógica, mas isso faz parte da sua graça.
Afinal, a língua portuguesa também se alimenta de imagens e exageros, e é precisamente aí que mora a sua beleza (e o seu humor).










