A pergunta parece simples, mas a resposta está longe de o ser: quantas palavras existem, afinal, na língua portuguesa? Ao contrário do que sucede com outras línguas, o português não tem ainda uma única entidade reguladora com autoridade plena sobre o seu vocabulário.
A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras têm ambas peso cultural e científico, mas nenhum dos seus vocabulários é, de facto, oficial – prova disso é que o Vocabulário Ortográfico Comum, ainda em construção no âmbito do Acordo Ortográfico de 1990, os contradiz em vários pontos e é esse que tem força legal.
Outras línguas têm caminhos mais definidos. A Real Academia Espanhola, por exemplo, coordena as várias academias do mundo hispânico e publica um dicionário considerado oficial.
A versão mais recente contabiliza 93 mil palavras. O número poderá parecer elevado, mas está longe de ser o mais ambicioso. O Larousse francês ultrapassa os 135 mil verbetes, e o Oxford English Dictionary atinge os 290 mil.
Mesmo assim, nenhum destes ultrapassa o que continua a ser o maior dicionário da nossa língua: o monumental Grande Dicionário da Língua Portuguesa, obra do brasileiro António de Morais Silva, cuja 10.ª edição (publicada entre 1948 e 1958, por José Pedro Machado) soma 306 949 entradas – um recorde ainda por bater.
Uma tradição antiga e vasta
A lexicografia portuguesa tem raízes antigas. Já no início do século XVIII existia um dicionário monolingue, o de Bluteau, com cerca de 44 mil verbetes.
Cem anos depois, a língua portuguesa somava já três grandes obras com mais de 100 mil palavras: os dicionários de Morais, de Caldas Aulete e de Cândido de Figueiredo, este último com 128 521 entradas na edição de 1913.
Em 1939, juntou-se-lhes o “Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa”, de Laudelino Freire, com mais de 208 mil.
No século XX, continuaram a surgir grandes dicionários, tanto em Portugal como no Brasil. A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, publicada entre 1936 e 1960, inclui também um vasto número de entradas lexicais – mais de 250 mil – apesar do seu carácter híbrido entre enciclopédia e dicionário.
Mais recentemente, várias obras continuam a alargar o vocabulário recolhido e atualizado. Entre os mais conhecidos estão o Priberam, o dicionário da Porto Editora, o da Texto Editores, o Estraviz da Galiza, e no Brasil o Aurélio, o Michaelis, o Houaiss e o Aulete.
Muitos destes ultrapassam as 100 mil palavras, com o dicionário da Porto Editora a afirmar conter 120 mil entradas e o Priberam mais de 115 mil.
Também a Academia das Ciências de Lisboa, após várias tentativas, lançou finalmente em 2001 o seu primeiro dicionário completo, com 70 mil entradas, baseado num corpus representativo do português europeu.
Já o primeiro dicionário brasileiro baseado num corpus foi publicado em 2002, com 62 800 palavras.
Um número em aberto
Contar palavras não é tarefa simples. O número varia consoante o critério: consideram-se formas derivadas? Palavras arcaicas? Regionalismos? Neologismos técnicos? Mesmo os maiores dicionários atuais fazem escolhas e exclusões que refletem a visão dos seus autores.
No entanto, uma coisa é certa: a língua portuguesa, com os seus muitos milhões de falantes em vários continentes, tem uma história lexicográfica rica e notável.
E ainda que nenhum dicionário consiga dar conta de tudo o que se diz e escreve em português, os números impressionam – e convidam à curiosidade de quem ama as palavras.










