No coração da Serra da Estrela, a poucos quilómetros de Seia, a praia fluvial de Loriga aparece como uma surpresa bem guardada — encaixada num vale glaciar, entre socalcos e encostas íngremes, onde o silêncio da montanha é interrompido apenas pelo som da água a correr.
O que distingue esta praia de tantas outras não é apenas a limpidez da água ou a vista desafogada: é a forma como o tempo parece suspenso neste pedaço de serra.
A água vem diretamente da nascente da ribeira de Loriga, alimentada por degelos e linhas de água da montanha, e corre por entre rochedos e plataformas em granito moldadas à mão.
O resultado é um conjunto de pequenos lagos naturais, com zonas de banhos em diferentes níveis, que tornam o local único.
Com Bandeira Azul e a distinção “Qualidade de Ouro” atribuída pela Quercus, Loriga tem vindo a afirmar-se como uma das praias fluviais mais interessantes do país. Ainda assim, o ambiente mantém-se tranquilo, sem a agitação de outros destinos mais populares.
As infraestruturas ajudam a prolongar a estadia: há zonas de relvado, um pequeno bar, parque de merendas, casas de banho e um parque infantil.
A praia é vigiada durante a época balnear e inclui acessos adaptados para pessoas com mobilidade reduzida.
O estacionamento é limitado, por isso vale a pena chegar cedo, especialmente nos dias mais quentes de verão.
Mas Loriga não se resume aos mergulhos. A envolvência convida a caminhadas pelas encostas da serra. Vários trilhos partem da aldeia ou das imediações da praia, conduzindo a miradouros, pastagens e antigos caminhos de transumância.
Há rotas mais exigentes, que sobem até aos covões ou contornam barragens, mas também passeios acessíveis, ideais para quem procura apenas esticar as pernas antes do almoço.
E é à mesa que se fecha o ciclo da visita. A cozinha local é robusta, pensada para alimentar corpos que enfrentam o frio da altitude. Não faltam pratos de forno, como o cabrito assado, a feijoada de feijoca ou o arroz de carqueja, acompanhados por broa de milho e queijos da serra.
Para sobremesa, há o bolo negro de Loriga — feito com especiarias e mel — e, para os mais corajosos, a aguardente de zimbro.
No fim do dia, regressa-se à estrada com a sensação de se ter mergulhado não só numa praia, mas numa paisagem antiga, moldada por glaciação, pastores e séculos de vida serrana. Loriga não é um segredo, mas sabe mantê-lo bem.










