Há momentos em que a melhor forma de viajar é, simplesmente, abrandar. Deixar as autoestradas e seguir por caminhos que serpenteiam serras, atravessam aldeias, tocam o mar e revelam paisagens que não se descobrem a alta velocidade.
Portugal está entre os países europeus com mais autoestradas por quilómetro quadrado, mas há outra rede que nos leva mais longe — pelo menos no que toca à experiência e à ligação com o território: as estradas nacionais.
A rede de estradas nacionais começou a tomar forma ainda durante o Estado Novo, mas as suas raízes remontam muito mais longe. Os romanos foram os primeiros a estruturar ligações viárias em território português. O traçado da via Olissipo-Bracara Augusta, por exemplo, serve de base à atual EN1 (e à A1).
Mais tarde, entre os séculos XVIII e XIX, surgem as estradas reais, pensadas para conectar Lisboa e o Porto aos principais pontos do país.
Só em 1945, com o primeiro Plano Rodoviário Nacional, se organiza uma rede moderna e estruturada, que se estende até aos anos 80 e continua hoje, muitas vezes ignorada, a ser o melhor convite para quem quer descobrir o país de forma mais próxima.
Neste roteiro, deixamos de fora a popular EN2 e a fotogénica 222. Em vez disso, destacamos cinco percursos menos óbvios, mas onde o Portugal profundo e diverso se revela em pleno.
1. EN103: do Minho a Trás-os-Montes, a estrada do Norte

Com 260 km entre Viana do Castelo e Bragança, a EN103 atravessa um dos trechos mais ricos em contrastes de Portugal. Do verde atlântico do Minho às rochas duras de Trás-os-Montes, passando pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês e pelo Parque Natural de Montesinho, este é um percurso onde a paisagem muda a cada curva.
Pequenas aldeias como Fafião, Soajo ou Pitões das Júnias conservam tradições antigas. Pelo caminho, encontram-se castelos, cascatas, lagoas e rios como o Cávado, o Tâmega ou o Rabaçal. É uma viagem onde se sente o peso da história, mas também o vigor da natureza.
2. EN17: entre serras e aldeias do Centro

Conhecida como a Estrada da Beira, a EN17 liga Coimbra a Celorico da Beira ao longo de 129 km. Diferencia-se por evitar os centros urbanos, contornando-os por paisagens de serra e vales profundos. Atravessa zonas marcadas pelas serras da Lousã, Açor e Estrela, com acesso próximo a aldeias históricas e de xisto.
É também uma estrada de sabores: javali, chanfana, cabrito assado e vinhos do Dão fazem parte da paisagem gastronómica. Ideal para quem procura a tranquilidade dos vales e a autenticidade do interior beirão.
3. EN109: a estrada da Costa da Prata

Entre Vila Nova de Gaia e Leiria, a EN109 percorre pouco mais de 170 km de costa atlântica. É uma estrada para se fazer devagar, com paragens frequentes em praias como Espinho, Furadouro ou Nazaré, e visitas a igrejas revestidas de azulejos, como as de Válega e Cortegaça, no concelho de Ovar.
O percurso atravessa zonas vinícolas do Douro e da Bairrada, e é ideal para quem aprecia a combinação entre paisagem marítima, gastronomia e património.
4. EN4: pelo coração do Alentejo

Com 175 km entre o Montijo e Elvas, a EN4 cruza o Alentejo central de oeste para este. Ao longo do caminho, surgem cidades e vilas como Montemor-o-Novo, Arraiolos, Estremoz ou Evoramonte — cada uma com o seu castelo, os seus sabores e as suas histórias.
É uma estrada de grandes horizontes, campos dourados e luz intensa. Atravessa zonas vinícolas, passa por praias fluviais e conduz até Elvas, Património Mundial da UNESCO. Um percurso ideal para sentir a lentidão alentejana e o silêncio do interior.
5. EN120-125: a alternativa à autoestrada rumo ao Algarve

Para quem ruma a sul no verão, esta é uma forma diferente de chegar ao Algarve. A EN120 nasce em Alcácer do Sal e percorre a Costa Vicentina até Lagos. Daí, a EN125 continua até Vila Real de Santo António, cruzando todo o Algarve.
As praias sucedem-se: Zambujeira do Mar, Almograve, Odeceixe, Arrifana, entre muitas outras. A paisagem alterna entre falésias, campos e pequenas povoações de casas brancas.
A estrada foi desenhada no século XIX para ligar os principais centros económicos do sul, mas hoje é a melhor forma de conhecer o Algarve além dos postais turísticos.










