Nenhum povo escapa aos seus defeitos – e nós, portugueses, não somos excepção. Há traços de personalidade e hábitos que, embora não façam parte das páginas douradas do orgulho nacional, estão tão entranhados na vida quotidiana que se tornaram parte do carácter coletivo.
Neste texto não há moralismos nem generalizações fechadas. Apenas uma leitura bem-humorada (e ligeiramente autoirónica) de comportamentos que muitos vão reconhecer – ainda que raramente confessem.
1. Procrastinar é connosco
“Depois faço.” Quantas vezes foi esta a resposta – seja no trabalho, nas tarefas domésticas ou nos compromissos? A arte de adiar é uma especialidade nacional, muitas vezes disfarçada de “gestão de prioridades”.
2. O volume nunca é problema
Conversa entre amigos, discussão de café ou telefonema no comboio: há quem ache que falar baixo é sinal de falta de entusiasmo. E se alguém pedir silêncio… é porque está a ouvir mal.
3. A pontualidade criativa
“Já estou a chegar” pode significar que ainda estamos a sair de casa. A famosa “hora portuguesa” é flexível – e raramente coincide com o horário marcado. Mas há sempre uma boa desculpa.
4. Um café resolve tudo
Seja para acordar, pensar, decidir, desabafar ou fazer tempo, o café está presente. Não se trata apenas de uma bebida: é um ritual social, uma pausa necessária e, para muitos, quase um direito adquirido.
5. A organização (às vezes) fica para depois
Papéis empilhados, e-mails por responder e uma gaveta onde tudo cabe: não é falta de capacidade, é um certo gosto pelo caos funcional. No fim, tudo se resolve – mesmo que com alguma improvisação.
6. Um certo fatalismo latente
“É o que é”, “logo se vê”, “já não vale a pena”. Frases que revelam uma visão do mundo onde o destino parece estar sempre um passo à frente da vontade. O fado, afinal, não é só música.
7. Fazer fila? Só se não houver alternativa
Se a fila for clara e bem marcada, respeita-se. Mas se houver margem para avançar “só um bocadinho”, é difícil resistir. Em certas situações, o instinto é mais rápido que a lógica.
8. O eterno “amanhã logo trato disso”
O amanhã é um lugar muito povoado de intenções. O problema é quando esse amanhã nunca chega – ou chega com uma lista que já passou o prazo de validade.
9. Condutores convictos… de que são os melhores
Buzinar antes do semáforo ficar verde, ultrapassar pela direita ou acelerar numa rotunda são comportamentos mais comuns do que se gosta de admitir. Afinal, “os outros é que não sabem conduzir”.
Assumir os próprios defeitos não é sinal de fraqueza – é uma forma de se rir de si próprio e, quem sabe, melhorar. E se há algo que define bem o espírito português é essa capacidade de levar a vida com um pé na crítica e outro na gargalhada.









