Nem sempre são fáceis de entender. Algumas são antigas, outras quase poéticas. Há quem as chame palavras caras, eruditas ou até “chiques”. Mas, no fundo, são apenas palavras pouco usadas no dia a dia — e por isso mesmo mais curiosas, enigmáticas ou sonoramente apelativas.
A língua portuguesa está repleta de vocábulos que parecem saídos de um romance oitocentista ou de um discurso académico, mas que continuam a ter lugar no vocabulário culto contemporâneo.
Conhecê-las não é apenas um exercício de vaidade linguística — é uma forma de ampliar horizontes, de brincar com o idioma e de enriquecer a forma como pensamos e nos expressamos.
A lista que se segue junta 50 dessas palavras — com os seus significados — para ler, guardar e, quem sabe, começar a usar. Afinal, o português tem muito mais para oferecer além do “ok”, “fixe” ou “brutal”-
- Escaler: pequena embarcação a remos usada para serviços auxiliares no mar.
- Sainete: peça breve e cómica de teatro; também usado para designar algo com graça ou encanto.
- Bambúrrio: sorte inesperada, sobretudo no jogo.
- Alinhavo: costura provisória feita com pontos largos para guiar a definitiva.
- Pingarelho: indivíduo mal vestido com pretensões de parecer distinto.
- Crestar: queimar levemente ou tostar ao sol.
- Apropinquar: aproximar ou aproximar-se.
- Lazeira: desgraça ou infortúnio; também usado como sinónimo de fome.
- Lampinho: pessoa sem barba; imberbe.
- Imarcescível: que não murcha, incorruptível, eterno.
- Prosápia: linhagem; também usado para descrever vaidade ou discurso pretensioso.
- Silente: silencioso, calado, sem ruídos.
- Preito: homenagem, compromisso de fidelidade.
- Deletério: prejudicial à saúde ou moral; nocivo.
- Estúrdio: extravagante, desajuizado, fora do comum.
- Camoeca: sonolência provocada por embriaguez.
- Perfunctório: superficial, feito apenas por obrigação.
- Pernóstico: pretensioso, afectado, convencido.
- Procrastinar: adiar ou deixar para depois.
- Lépido: alegre, jovial; também usado para indicar agilidade.
- Húbris: orgulho excessivo ou arrogância que leva à ruína, segundo a mitologia grega.
- Menoscabar: desvalorizar, desacreditar, desprezar.
- Diáfano: translúcido; também usado para descrever algo vago ou impreciso.
- Veneta: impulso súbito ou capricho repentino.
- Níveo: de cor branca como a neve.
- Sevandija: pessoa que vive à custa dos outros; parasita social.
- Antanho: de outrora, dos tempos antigos.
- Adejar: esvoaçar ou agitar-se levemente.
- Bonomia: bondade e simplicidade de carácter.
- Azevieiro: esperto, sagaz, astuto.
- Lábil: instável, sujeito a alterações; escorregadio.
- Tálamo: leito conjugal; também designa uma parte do cérebro.
- Simonia: comércio de bens espirituais.
- Dispepsia: dificuldade na digestão.
- Cerviz: nuca; usado figuradamente como símbolo de submissão.
- Torcionário: quem tortura ou atormenta; também o aparelho usado para tortura.
- Arroubo: êxtase, enlevo, emoção intensa.
- Hausto: gole, trago; remédio líquido.
- Feérico: mágico, deslumbrante, de fantasia.
- Remir: libertar, resgatar, compensar.
- Vulpino: relativo à raposa; astuto, traiçoeiro.
- Concupiscência: desejo excessivo por bens materiais ou prazeres sensuais.
- Obnóxio: submisso, desprezível ou perigoso.
- Probo: íntegro, honesto, de conduta irrepreensível.
- Estiolado: debilitado, fraco, sem vigor.
- Pane: falha súbita de funcionamento, avaria.
- Besnico: criança pequena, miúdo.
- Vogar: navegar; estar em uso ou em moda.
- Capiangar: roubar com destreza; vaguear.
- Sedição: revolta contra a autoridade; perturbação da ordem pública.
Usar estas palavras não é, necessariamente, um sinal de pretensiosismo. Pode ser, sim, uma forma de apurar o gosto pela língua, de dar mais cor ao discurso e de manter viva uma parte do vocabulário que corre o risco de se perder. A língua portuguesa é vasta — e cabe-nos a nós explorá-la.










