Há quem diga que visitar os Açores é como viajar dentro de Portugal, mas para um país diferente. As paisagens falam por si, é certo, mas também a língua tem sotaques, palavras e construções que, para quem vem de fora, parecem quase um dialecto. Não são — mas quase.
Ao circular de ilha em ilha, ou até de freguesia em freguesia, o que se ouve muda ligeiramente. O português açoriano é marcado por expressões que revelam a criatividade, o humor e a história de um povo habituado ao isolamento, à natureza imprevisível e à convivência próxima com o mar.
Muitas destas palavras não constam em dicionários — mas vivem no dia-a-dia.
A lista que se segue reúne 30 dessas expressões. Algumas são adaptações de palavras comuns noutras variantes do português; outras nasceram da oralidade local; há ainda empréstimos linguísticos com pronúncias reinventadas (como “gama”, que vem de bubble gum, ou “chouffér”, vindo do francês).
A maioria talvez nunca tenha saído das ilhas. Mas todas fazem parte do património imaterial dos Açores.
Uma amostra do vocabulário açoriano:
- Abouiar – atirar
- Aganta – aguenta
- Alambrar – lembrar
- Alvarozes – jardineiras
- Amanda – manda
- Apoquentação – inquietação
- Arenga – discussão acesa
- Binsuade – querido, abençoado
- Cramalheira – queixo
- Fêjoca – órgão sexual feminino
- Fominha negra – muita fome
- Fonte – torneira
- Gama – pastilha elástica
- Grande padeira – grande rabo
- Ilhó – ânus
- Mamã s’abence – pedido de bênção
- Meias – collants
- Moreão – pénis
- Naião – homossexual
- Pana – alguidar
- Papo-seco – carcaça
- Paranhos – teias de aranha
- Pega drêt – desaparece
- Petxeno – pequeno, rapaz
- Pregadeiras – molas da roupa
- Requim – bonito
- Têstos – cacos
- Vá larê – vai dar uma volta
- Vamos lálár – vamos passear
- Vent’incanade – corrente de ar
Entre o cómico e o carinhoso, estas palavras refletem também a forma como o falar regional ajuda a reforçar os laços de identidade local.
E, embora possa causar estranheza à primeira audição, o vocabulário açoriano convida ao sorriso e desperta a curiosidade.
Para quem visita, aprender algumas destas expressões pode ser um primeiro passo para se sentir mais próximo.
Para quem é de lá, é sinal de pertença – e de que se fala uma língua com sotaque das ilhas, mas enraizada na história e na vivência de um arquipélago com voz própria.










