No dia-a-dia, muitas frases que parecem inofensivas escondem pequenas armadilhas linguísticas. Expressões como subir para cima ou certeza absoluta são tão comuns que quase passam despercebidas. Mas a verdade é que transportam uma repetição de ideias que torna a linguagem mais pobre e, por vezes, até confusa.
Essas repetições chamam-se pleonasmos viciosos – construções redundantes que surgem por hábito, mas que comprometem a clareza do discurso. Diferentes dos pleonasmos de intenção expressiva, que têm lugar na literatura ou na oralidade criativa, estes vícios empurram a língua para a repetição sem necessidade.
O que é um pleonasmo?
É, em termos simples, a repetição desnecessária de um conteúdo já presente noutra palavra da frase. Um exemplo clássico está no verso de Camões “vi claramente visto”, onde a redundância tem um fim estilístico.
No entanto, dizer “entrou para dentro” ou “desceu para baixo” não tem qualquer valor literário — apenas repete o óbvio.
Abaixo, apresentamos dez pleonasmos viciosos que convém evitar — e porquê.
1. Entrar para dentro
O verbo entrar já pressupõe o movimento para o interior.
✅ Correto: Entrou no carro.
2. Sair para fora
Sair implica deslocação para o exterior.
✅ Correto: Saiu da sala.
3. Subir para cima
Subir já é, por definição, ascender.
✅ Correto: Subiu as escadas.
4. Descer para baixo
O mesmo raciocínio aplica-se a descer.
✅ Correto: Desceu do comboio.
5. Adiar para depois
Adiar já implica postergar.
✅ Correto: Adiaram o encontro.
6. Antecipar para antes
Antecipar significa adiantar algo no tempo.
✅ Correto: Anteciparam a reunião para as 10h.
7. Certeza absoluta
Certeza não admite meias medidas.
✅ Correto: Tenho a certeza.
8. Conclusão final
Toda a conclusão marca um fim.
✅ Correto: Na conclusão, destacou os pontos-chave.
9. Consenso geral
Consenso já implica uma visão partilhada.
✅ Correto: Chegaram a consenso.
10. Panorama geral
Panorama remete, por si só, para uma visão abrangente.
✅ Correto: Apresentou o panorama da situação.
Evitar estes pleonasmos é mais do que uma questão de rigor linguístico – é uma forma de tornar a comunicação mais eficaz, fluida e elegante.
Quem domina a língua transmite também uma imagem de maior cuidado, atenção e respeito pelo interlocutor.
Afinal, falar e escrever bem é mais do que saber palavras difíceis. É saber usá-las com precisão.











Há outros, alguns dos quais, repetidamente ditos por jornalistas e políticos. Talvez o mais usado seja o “há dias atrás”. Outro muito comum é “voltar a repetir”.