O risco de tsunami em Portugal não é um cenário remoto. A história, a geologia e os dados sísmicos confirmam que a costa portuguesa está exposta a eventos capazes de gerar ondas com impacto significativo, muitas delas com tempos de chegada inferiores a 30 minutos.
Uma localização geológica que aumenta a vulnerabilidade
Portugal encontra-se numa das zonas tectonicamente mais activas da Europa, na fronteira entre as placas Euro-asiática e Africana. Embora a maioria dos sismos sentidos seja de baixa intensidade, a possibilidade de ocorrerem terramotos fortes — com potencial para gerar tsunamis — é real.
O exemplo mais marcante continua a ser o terramoto de 1755, cujo impacto em Lisboa e no litoral sul permanece como referência histórica e científica. Estudos recentes do IPMA e de instituições europeias reforçam que a energia acumulada naquela zona de fronteira mantém capacidade para produzir eventos semelhantes.
Algarve: ondas podem chegar em menos de meia hora
O Algarve é uma das regiões com maior exposição. Em cidades costeiras como Lagos, Portimão, Albufeira ou Faro, a primeira onda pode chegar entre 20 e 30 minutos após um sismo submarino. A baixa altitude da faixa litoral e a urbanização junto ao mar tornam o risco mais significativo.
Também no Centro, zonas como Peniche, Nazaré ou Figueira da Foz apresentam vulnerabilidades. A morfologia costeira pode intensificar a energia das ondas, mesmo quando o epicentro do sismo está a centenas de quilómetros.
Lisboa e Tejo: impacto potencial canalizado pelo estuário
A Área Metropolitana de Lisboa não está fora do mapa de risco. Concelhos como Cascais, Oeiras, Almada, Barreiro ou Seixal podem ser atingidos entre 30 e 45 minutos após um evento de grande magnitude.
A forma em funil do estuário do Tejo é um factor crítico: a energia das ondas pode ser canalizada para o interior, aumentando os impactos em zonas ribeirinhas. A península de Tróia e a frente urbana de Setúbal enfrentam condições semelhantes, devido à proximidade à linha de costa e à baixa altitude.
Açores e Madeira: vigilância constante
Nas regiões autónomas, a exposição é permanente, embora por motivos distintos. Nos Açores, a atividade sísmica frequente resulta da junção de três placas tectónicas, colocando ilhas como São Miguel e Santa Maria em maior atenção.
Na Madeira, situações de instabilidade submarina — como deslizamentos de vertentes subaquáticas — podem originar tsunamis localizados. A orografia acentuada protege algumas zonas, mas aumenta o risco noutras, como Funchal ou Câmara de Lobos.
Sistema de alerta existe, mas o tempo de resposta é limitado
Desde 2017, o Centro de Alerta para Tsunamis (CAT-IPMA) integra a rede internacional de monitorização coordenada pela UNESCO. A vigilância recorre a boias oceânicas, sensores submarinos e estações sísmicas distribuídas pelo Atlântico.
Apesar dos avanços tecnológicos, o tempo disponível para reagir continua reduzido. Em várias zonas do litoral, a população pode ter menos de 40 minutos para abandonar áreas de risco.
O que fazer se ocorrer um sismo perto da costa
A Protecção Civil mantém orientações claras para situações deste tipo. Se ocorrer um sismo forte, prolongado ou com impacto evidente no litoral, a resposta deve ser imediata:
- Afastar-se rapidamente da zona costeira e dirigir-se para locais elevados;
- Seguir as rotas de evacuação assinaladas;
- Não regressar ao litoral até existir indicação das autoridades;
- Manter atenção às comunicações oficiais via rádio, alerta SMS ou canais institucionais.
Preparação: o elemento decisivo
Estudos internacionais apontam para ciclos sísmicos longos na região do Atlântico Nordeste, com intervalos que podem variar entre 200 e 400 anos para eventos de grande magnitude. Este enquadramento coloca Portugal dentro de uma janela temporal plausível para um novo sismo significativo.
A existência de planos municipais de emergência, a participação em simulacros escolares, a sinalização de rotas de evacuação e o conhecimento prévio das zonas de refúgio são medidas essenciais para reduzir riscos.
Preparar antecipadamente um plano familiar — com pontos de encontro, contatos de emergência e rotas seguras — é hoje uma das estratégias mais recomendadas pela Proteção Civil.







