O fado é uma forma de cantar que exprime sentimentos profundos, como a saudade, o amor, a dor, o ciúme, o destino e a esperança. É acompanhado por uma guitarra portuguesa, que tem um som agudo e vibrante, e uma viola, que faz a base harmónica. O fado é cantado por uma só voz, que pode ser masculina ou feminina, e que interpreta as letras com emoção e intensidade.
Mas qual é a origem do fado? Esta é uma questão que não tem uma resposta definitiva, pois existem várias teorias e hipóteses sobre as suas origens e influências. No entanto, há alguns factos e indícios que nos permitem traçar um percurso histórico do fado e compreender melhor o seu significado e valor.
Uma das teorias mais populares sobre a origem do fado é que ele teria surgido a partir dos cânticos dos mouros que ocuparam o território português durante vários séculos. Estes cânticos seriam marcados por uma melancolia e uma tristeza que refletiam a saudade da sua terra natal. Outra teoria relaciona o fado com a xácara, uma forma de narrativa popular em verso que contava histórias de aventuras, amores e desgraças.

No entanto, não há provas concretas destas origens, pois não há registos escritos ou musicais do fado até ao século XIX. O que se sabe é que o fado surgiu em Lisboa, na segunda metade desse século, nos bairros populares como Alfama, Mouraria, Bairro Alto e Madragoa. Nestes bairros, o fado era cantado nas tabernas, nas casas de prostituição e nas ruas, por pessoas humildes e marginalizadas que expressavam as suas angústias e vivências.
O fado era também cantado pelos marinheiros nos navios que partiam para os mares desconhecidos. Um dos primeiros fados conhecidos é o “Fado do Marinheiro”, que dizia:
Ai quem me dera ser marinheiro
E navegar no mar alto
Ver as estrelas mais de perto
E ter por guia o meu fado
O fado era considerado uma música de vadios e de malandros, que não era bem vista pelas classes mais altas da sociedade. No entanto, com o passar do tempo, o fado começou a ganhar popularidade e respeito, graças à divulgação na rádio, no teatro e no cinema. O fado tornou-se também um símbolo da identidade nacional e da resistência cultural durante o regime ditatorial do Estado Novo.

As diferenças entre o fado de Lisboa e o fado de Coimbra
O fado de Lisboa não é o único tipo de fado em Portugal. Existe também o fado de Coimbra, ou canção de Coimbra, que se desenvolveu na cidade universitária de Coimbra. O fado de Coimbra tem algumas diferenças em relação ao fado de Lisboa, tanto na música como na poesia.
O fado de Coimbra está ligado à tradição académica da cidade dos estudantes. Os seus temas são principalmente a saudade dos tempos de estudante, da cidade e dos amores ali vividos. O fado de Coimbra é cantado apenas por homens, que usam as capas negras dos estudantes universitários.
O fado de Coimbra tem uma estrutura musical mais complexa do que o fado de Lisboa. O ritmo é mais lento e as tonalidades são menores. A guitarra portuguesa de Coimbra tem uma afinação diferente da de Lisboa, e o seu som é mais suave e delicado.
O fado de Coimbra é mais ouvido em serenatas e espaços ao ar livre, enquanto o fado de Lisboa é mais cantado em ambientes intimistas, como as casas de fado. O fado de Coimbra tem uma influência da música erudita e da canção popular portuguesa, enquanto o fado de Lisboa tem uma origem mais popular e boémia.
Os principais nomes do fado
Ao longo da sua história, o fado teve vários intérpretes que se destacaram pela sua voz, pela sua personalidade e pelo seu talento. Alguns dos nomes mais importantes do fado são:
- Amália Rodrigues: considerada a rainha do fado, foi a fadista mais famosa e influente de todos os tempos. Com uma voz poderosa e expressiva, cantou fados tradicionais e modernos, com letras de grandes poetas portugueses. Levou o fado aos palcos do mundo inteiro e tornou-se um ícone da cultura portuguesa.
- Alfredo Marceneiro: foi um dos mestres do fado castiço, o fado mais puro e autêntico. Com uma voz rouca e uma forma de cantar muito pessoal, criou um estilo único e inconfundível. Cantou fados de sua autoria e de outros compositores, com letras que retratavam a vida dos bairros populares de Lisboa.
- Carlos do Carmo: foi um dos renovadores do fado, que introduziu novos instrumentos, novos ritmos e novas sonoridades. Com uma voz grave e elegante, cantou fados clássicos e contemporâneos, com letras de grandes autores portugueses. Foi também um dos impulsionadores da candidatura do fado a património da humanidade.
- Mariza: é uma das vozes mais aclamadas do fado atual, que combina a tradição com a inovação. Com uma voz cristalina e emotiva, canta fados tradicionais e originais, com letras que abordam temas universais. Tem uma carreira internacional de sucesso e é uma embaixadora da cultura portuguesa.
O fado como património da humanidade
Em 2011, o fado foi reconhecido pela UNESCO como património cultural imaterial da humanidade. Esta distinção significa que o fado é uma expressão cultural única e valiosa, que deve ser preservada e transmitida às gerações futuras. O fado é considerado um património da humanidade porque:
- Reflete a diversidade cultural e a criatividade humana;
- Representa a identidade e os valores de um povo;
- Promove o diálogo e o respeito entre as culturas;
- Enriquece o património musical mundial.