O Porto é uma cidade cheia de história e de monumentos que testemunham o seu passado. No entanto, nem todos os edifícios que marcaram a vida da cidade resistiram ao tempo e às mudanças. Um desses casos é o do antigo Palácio de Cristal, um imponente pavilhão de granito, ferro e vidro que existiu entre 1865 e 1951 e que foi palco de muitos eventos culturais, sociais e desportivos.
O Palácio de Cristal foi inspirado no famoso Crystal Palace de Londres e construído pelo arquiteto inglês Thomas Dillen Jones. Tinha 150 metros de comprimento por 72 metros de largura e era dividido em três naves. No seu interior, havia dois teatros, um órgão de tubos, salas de leitura, jogos e exposições de arte. No seu exterior, havia jardins românticos, fontes, lagos e estátuas.
Foi inaugurado pelo rei D. Luís para acolher a Exposição Internacional do Porto, que contou com mais de 3 mil expositores de vários países. Ao longo dos seus 86 anos de existência, o palácio acolheu muitas outras exposições, como a das rosas, a agrícola e a colonial. Foi também um importante espaço de cultura, onde se realizaram concertos de Viana da Mota e Guilhermina Suggia.

Infelizmente, o Palácio de Cristal foi demolido em 1951 para dar lugar a um pavilhão desportivo, que seria usado para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. A demolição do palácio foi contestada pela população, que considerava o edifício um símbolo da cultura e da história da cidade. Além disso, o palácio continha um órgão de tubos que era dos maiores do mundo e que foi destruído à martelada.
A construção do Palácio de Cristal
A ideia de construir um palácio de vidro no Porto surgiu na década de 1850, quando a Associação Industrial Portuense (hoje Associação Empresarial de Portugal) decidiu organizar uma exposição internacional para mostrar os progressos da indústria nacional e estrangeira. Para isso, era preciso um espaço amplo e moderno, capaz de albergar os vários expositores e visitantes.
Foi então que se pensou em seguir o exemplo do Crystal Palace londrino, que tinha sido construído em 1851 para a primeira Exposição Universal da história. O Crystal Palace era um edifício revolucionário para a época, feito inteiramente de ferro e vidro, com uma estrutura pré-fabricada e modular. Tinha uma forma retangular com duas torres laterais e uma cúpula central. Media 564 metros de comprimento por 124 metros de largura e tinha uma área coberta de 92 mil metros quadrados.

Para construir o edifício, foi escolhido o campo da Torre da Marca, um terreno elevado sobre o rio Douro, na freguesia de Massarelos. O projeto foi encomendado ao arquiteto inglês Thomas Dillen Jones, que se inspirou no Crystal Palace mas adaptou-o às características do local. O Palácio de Cristal do Porto tinha uma forma octogonal com quatro torreões nos cantos e uma cúpula central. Media 150 metros de comprimento por 72 metros de largura e tinha uma área coberta de 11 mil metros quadrados. O palácio era feito de granito, ferro e vidro, sendo que o vidro ocupava cerca de 70% da superfície exterior.
A construção do Palácio de Cristal começou em 1861 e durou quatro anos. A primeira pedra foi lançada pelo rei D. Pedro V, que morreu pouco depois. A inauguração foi feita pelo seu irmão e sucessor, D. Luís, em 18 de setembro de 1865. Nesse dia, o palácio estava engalanado com bandeiras, flores e iluminações. O rei e a sua comitiva foram recebidos com uma salva de 21 tiros e percorreram as várias secções da exposição, acompanhados por uma banda de música.
A Exposição Internacional do Porto foi um grande sucesso, atraindo mais de 3 mil expositores de vários países, como França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Brasil, Espanha, Dinamarca, Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos e Japão. A exposição mostrava os avanços da indústria, da agricultura, das artes e das ciências. Entre as atrações mais populares estavam as máquinas a vapor, os telégrafos elétricos, os instrumentos musicais, as armas de fogo, as joias, as rendas e os bordados.
A exposição durou até 15 de outubro de 1865 e recebeu cerca de 300 mil visitantes. Foi considerada um marco na história do Porto e do país, demonstrando o progresso e a modernidade da nação.
A vida no Palácio de Cristal
Depois da exposição internacional, o Palácio de Cristal continuou a ser usado para vários eventos culturais, sociais e desportivos. O palácio era um espaço multifuncional, que oferecia diversas atividades aos seus frequentadores.
No seu interior, havia dois teatros: o Teatro Gil Vicente e o Teatro Popular. O primeiro era um teatro de luxo, com capacidade para 800 pessoas e equipado com um palco giratório. O segundo era um teatro mais modesto, com capacidade para 400 pessoas e destinado a espetáculos mais populares.
O palácio tinha também um órgão de tubos que era considerado um dos maiores do mundo. O órgão tinha 2750 tubos distribuídos por quatro teclados manuais e uma pedaleira. O órgão era usado para acompanhar os concertos de música clássica que se realizavam no palácio. Entre os músicos que tocaram no órgão estavam Viana da Mota e Guilhermina Suggia.
O palácio tinha ainda salas de leitura, jogos e exposições de arte. As salas de leitura eram frequentadas por intelectuais e estudantes que procuravam um ambiente tranquilo para ler ou estudar. As salas de jogos eram usadas para jogar bilhar, xadrez ou cartas. As salas de exposições de arte eram usadas para mostrar as obras dos artistas locais ou nacionais.
No exterior do palácio havia jardins românticos que convidavam ao passeio e ao lazer. Os jardins tinham fontes, lagos, grutas artificiais, torres, miradouros, um coreto, uma concha acústica, estátuas e um monumento ao esforço colonizador português. Eram palco de festas, bailes, piqueniques, concertos e espetáculos de fogos de artifício. Tinham também um lago onde se podia andar de barco ou ver os cisnes e os patos.
O Palácio de Cristal era, assim, um lugar de encontro e de convívio para os portuenses de todas as classes sociais. Era um lugar de cultura e de diversão, onde se podia apreciar a arte, a música, a literatura e a natureza.
A demolição do Palácio de Cristal
Apesar de ser um edifício querido e admirado pelos portuenses, o Palácio de Cristal não escapou ao destino de muitos outros monumentos históricos do país: a demolição. Com o passar dos anos, o palácio foi sofrendo um processo de degradação e de abandono, devido à falta de manutenção e de investimento. O palácio foi perdendo o seu brilho e a sua funcionalidade, sendo cada vez menos usado para os fins para que foi criado.
Em 1951, a Câmara Municipal do Porto decidiu demolir o Palácio de Cristal para construir um novo edifício que serviria para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. O novo edifício seria um pavilhão desportivo de betão armado, com uma forma circular e uma cúpula em forma de cogumelo. O projeto foi do arquiteto José Carlos Loureiro e do engenheiro António dos Santos Soares.
A demolição do Palácio de Cristal foi feita em menos de um ano, entre abril e dezembro de 1951. A demolição foi feita à martelada, sem qualquer cuidado ou respeito pelo património histórico e cultural que se estava a perder. O órgão de tubos foi também destruído à martelada, sem que se tentasse salvar ou aproveitar alguma parte do instrumento.
A demolição do edifício provocou uma grande indignação e revolta na população portuense, que considerava o palácio um símbolo da cidade e da sua identidade. Muitos protestos e manifestações foram feitos contra a decisão da câmara, mas sem sucesso. O palácio foi arrasado e substituído por um pavilhão desportivo que nada tinha a ver com a sua história e com a sua beleza.