No coração do Atlântico, os Açores são conhecidos pela sua paisagem exuberante, pelo património vulcânico e por uma cultura marcada pela insularidade. Mas há quem acredite que o arquipélago guarda ainda outro segredo: pirâmides antigas, erguidas muito antes da chegada dos portugueses.
São mito ou realidade? A resposta continua em aberto — entre hipóteses arqueológicas, teorias alternativas e a prudência da ciência.
As estruturas da ilha do Pico
Em 2013, os arqueólogos da APIA, Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito, identificaram no Pico várias estruturas piramidais de pedra, conhecidas localmente como maroiços. Durante escavações encontraram ossos, utensílios de basalto, fragmentos de cerâmica e até objetos metálicos.

Alguns materiais parecem ser anteriores ao século XV, quando os portugueses chegaram oficialmente ao arquipélago. Caso se confirmem essas datas, estas construções poderiam indiciar a presença de navegadores anteriores.
As pirâmides apresentam degraus, pisos circulares e, em alguns casos, câmaras internas com corredores estreitos. A orientação predominante sudeste/noroeste levantou a hipótese de funções astronómicas ou rituais.
Ainda assim, a explicação mais aceite é pragmática: seriam apenas montes de pedra resultantes da limpeza de terrenos agrícolas.
A enigmática pirâmide submersa
Em 2012, o velejador Diocleciano Silva registou, com sonar, uma formação piramidal submersa entre São Miguel e a Terceira. Com cerca de 60 metros de altura e oito mil metros quadrados de base, a estrutura gerou especulação imediata: Atlântida? obra fenícia? ou apenas uma curiosa formação geológica?
Até hoje não houve investigação científica aprofundada. O Governo Regional dos Açores alegou falta de meios e prioridade para tal estudo. A pirâmide submarina permanece, assim, no campo do mistério.
Maroiços: tradição agrícola ou herança ancestral?
Os maroiços, montes de pedra construídos entre os séculos XVII e XIX para melhorar os solos agrícolas, são comuns em várias ilhas. Muitos têm forma piramidal e são frequentemente confundidos com monumentos ancestrais.

A arqueologia dominante vê-os como expressão de adaptação agrícola, mas para alguns investigadores não se pode excluir a hipótese de origens mais antigas.
Evidências de presença humana anterior?
Nos últimos anos, surgiram indícios que alimentam a hipótese de ocupação pré-portuguesa:
- Um estudo publicado na PNAS (2021) detetou esteróis fecais em sedimentos de lagos açorianos, sugerindo presença humana até 700 anos antes da chegada oficial dos portugueses.
- Na ilha Terceira, na Grota do Medo, foram identificadas estruturas megalíticas e inscrições atribuídas por alguns investigadores a época romana.
- Nas Lages, também na Terceira, existe uma necrópole escavada na rocha com 178 nichos, semelhante a columbários romanos.
Nenhuma destas descobertas é ainda conclusiva, mas levantam a possibilidade de que navegadores antigos — celtas, fenícios, cartagineses ou mesmo romanos — tenham chegado aos Açores antes do século XV.
Entre mito e ciência
As “pirâmides” açorianas podem ser fruto de trabalho agrícola recente ou testemunho de civilizações esquecidas. Sem investigações mais aprofundadas, as respostas ficam suspensas entre a lenda e a arqueologia.
Certo é que este enigma acrescenta uma camada de fascínio ao arquipélago, onde o Atlântico guarda tantas histórias por contar.










