Lisboa é uma cidade cheia de história e de património cultural. Entre os seus muitos edifícios históricos, há um que se destaca pela sua antiguidade, beleza e mistério: o Palácio das Águias. Este palácio, situado na Rua da Junqueira, junto ao rio Tejo, foi mandado construir em 1713 por Manuel Lopes Bicudo, um licenciado e advogado da Casa da Suplicação (o tribunal supremo da época). O palácio era uma casa de campo, onde Bicudo podia desfrutar do sossego e da natureza, longe do bulício da cidade.
O Palácio das Águias tem esse nome por causa das duas estátuas de águias que adornam o portão principal, que dá acesso aos jardins. Mas também é conhecido como Palácio dos Cortes Reais ou Quinta das Águias, porque pertenceu a Diogo de Mendonça Côrte Real, um secretário de Estado do rei D. José I, que o comprou em 1731. Foi ele que ampliou e embelezou o palácio, contratando o arquiteto Carlos Mardel, que também trabalhou no Aqueduto das Águas Livres e na Basílica da Estrela.
É um exemplo de arquitetura barroca, com uma fachada simétrica e decorada com elementos clássicos, como colunas, frontões e balaustradas. No interior, destacam-se os azulejos que revestem as paredes, com cenas mitológicas, históricas e campestres. O palácio também tem uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, com um retábulo de talha dourada e pinturas sacras.

A sua história é atribulada e marcada por mudanças de proprietários, conflitos jurídicos e intervenções arquitetónicas. Depois de Diogo de Mendonça Côrte Real ter sido desterrado em 1756 por causa do terramoto de Lisboa (que ele foi acusado de ter provocado com as suas políticas), o palácio foi arrendado a vários inquilinos ilustres.
Em 1838, o palácio foi comprado em hasta pública por José Dias Leite Sampaio, que foi feito visconde da Junqueira em 1851. Foi ele que alterou o palácio ao gosto italiano, dando-lhe de um novo portão com as águias que lhe deram o nome. O visconde da Junqueira morreu em 1870, sem deixar descendentes diretos, e o palácio passou para as mãos de vários herdeiros e sócios, até ser adquirido em 1918 pelo médico Manuel Caroça, que era casado com uma das netas do visconde.
O Dr. Manuel Caroça foi o último proprietário que habitou o palácio, tendo feito obras de restauro e conservação, sob a orientação do arquiteto Vasco Regaleira. O palácio foi então transformado num museu privado, onde se podiam ver as coleções de arte e antiguidades do Dr. Caroça, que incluíam pinturas, esculturas, mobiliário, porcelanas, tapeçarias e armas.
O Palácio das Águias foi aberto ao público em 1937, mas teve uma vida curta como museu. Em 1940, o Dr. Caroça morreu e deixou o palácio aos seus filhos, que não tinham interesse em mantê-lo. O palácio foi então vendido ao Estado português em 1942, com a condição de que fosse usado para fins culturais ou educativos.

No entanto, o Estado não cumpriu a sua parte do acordo e deixou o palácio ao abandono durante décadas. O palácio foi saqueado, vandalizado e ocupado por sem-abrigo e toxicodependentes. O seu património artístico foi disperso ou roubado. Os seus jardins foram invadidos por ervas daninhas e lixo. O seu telhado ficou furado e as suas paredes rachadas.
Atualmente, o Palácio das Águias é um dos edifícios mais degradados e esquecidos de Lisboa. Apesar de estar classificado como imóvel de interesse público desde 1978, não há nenhum projeto de recuperação ou reabilitação em vista. O palácio está fechado ao público e só pode ser visto do exterior, através das grades que o cercam.
Porque é que o Palácio das Águias é importante?
O Palácio das Águias é importante por vários motivos. Em primeiro lugar, é um dos monumentos mais antigos de Lisboa, que testemunha a evolução histórica e social da cidade ao longo de três séculos. Em segundo lugar, é um exemplo de arquitetura barroca, com elementos clássicos e românticos, que revela o gosto e a riqueza dos seus proprietários. Em terceiro lugar, é um espaço de arte e cultura, que alberga um acervo valioso e diversificado, que reflete a história e a identidade do país.
O Palácio das Águias é também importante porque é um património coletivo, que pertence a todos os portugueses e que deve ser preservado e valorizado. O palácio é um símbolo da memória e da identidade nacional, que pode ser usado para fins educativos, culturais ou turísticos. Recuperá-lo é uma oportunidade de desenvolvimento económico e social para a zona da Junqueira e para a cidade de Lisboa.
O Palácio das Águias é um tesouro escondido em Lisboa, que merece ser descoberto e recuperado. É um monumento histórico e artístico, que conta a história da cidade e do país ao longo dos tempos. É um património coletivo, que deve ser protegido e valorizado por todos os portugueses.

Perguntas frequentes:
Quando foi construído o Palácio das Águias?
O Palácio das Águias foi construído em 1713 por Manuel Lopes Bicudo.
Quem foi o arquiteto que remodelou o Palácio das Águias no século XVIII?
O arquiteto que remodelou o Palácio das Águias no século XVIII foi Carlos Mardel, que também trabalhou em outras obras importantes de Lisboa, como o Aqueduto das Águas Livres e a Basílica da Estrela.
Porque é que o Palácio das Águias está abandonado desde 1942?
O Palácio das Águias está abandonado desde 1942 porque o Estado português, que o comprou nesse ano, não cumpriu a condição de o usar para fins culturais ou educativos. O palácio foi deixado ao abandono durante décadas, sem nenhum projeto de recuperação ou reabilitação em vista.
Créditos das fotografias: André Ramalho