A belíssima Sortelha, no concelho do Sabugal, é uma daquelas aldeias que nos faz sentir orgulho em ser portugueses. Sortelha faz parte da rede de Aldeias Históricas de Portugal e é, sem dúvida, uma das aldeias mais bem conservadas do país. Passear pelos becos e ruelas de Sortelha é uma experiência única, uma autêntica viagem no tempo que nos faz recuar até aos tempos medievais.
O seu castelo domina toda a paisagem em redor e as suas muralhas envolvem, dentro de si, o casario em pedra. Sortelha parece integrar-se totalmente na paisagem, fazendo parte dela sem a destruir, numa autêntica comunhão de sentidos.
Uma das melhores formas de conhecer Sortelha é passear pelas ruas, deambular durante algumas horas pelo emaranhado de becos que compõem esta aldeia. Mas se pretende descobri-la a fundo, saiba que há muito mais para conhecer, caso esteja disposto a realmente descobrir a história desta pequena pérola no centro de Portugal. Desde o seu pelourinho às suas igrejas, desde as suas casas senhoriais às suas fontes… estes são os melhores locais para visitar em Sortelha.
1. Castelo e muralhas de Sortelha
O castelo de Sortelha, não pode ser dissociado do conjunto histórico que forma com a aldeia do mesmo nome, uma vez que para além do castelo e das muralhas que envolvem a povoação, o pelourinho, a Igreja Matriz, a Capela de São Sebastião, o Antigo Hospital da Misericórdia, a Fonte de Mergulho e a Fonte da Azenha, são um todo nesta aldeia histórica. O castelo medieval terá sido construído em 1228, já com D. Sancho II, que também concedeu foral à vila, as muralhas de protecção da povoação, terão sido erguidas no reinado de D. Dinis e mais tarde melhoradas por D. Fernando.

Ao longo dos séculos este castelo, muito pela sua colocação estratégica perto da fronteira, sofreu com as lutas com Castela e não escapou também às invasões francesas. Classificado como Monumento Nacional, já teve obras de conservação e restauro. Mantendo a traça gótica e manuelina, este castelo é como uma sentinela sentada nos rochedos, vigiando a paisagem, para lá das muralhas que protegem a povoação.
2. Casa da Câmara e Cadeia
A Antiga Casa da Câmara e Cadeia fica situada no Largo do Pelourinho e a sua construção remonta ao século XVI, tendo em conta as armas manuelinas e a datação atribuída ao pelourinho. O edifício tem dois pisos, sendo o piso inferior a cadeia e o superior a Câmara.

A planta é rectangular simples, com dois compartimentos por piso. Os vãos são de lintel recto, sem moldura saliente. Curiosamente, o piso inferior é encravado na muralha. Em 1855 com a extinção do concelho de Sortelha, o edifício foi transformado em escola primária, recentemente desactivada. Actualmente funciona no edifício a Junta de Freguesia.
3. Casa do Governador
A Casa do Governador do Concelho de Sortelha é atribuída aos séculos XV ou XVI, com ocupação posterior. Possui dois pisos e uma planta quadrangular e regular. A fachada principal apresenta cornija e vãos de lintel reto sem moldura, demonstrando influências classicistas.

Destacamos ainda uma janela de sacada moldurada, com mísulas laterais, a diferenciação funcional dos pisos, sendo o inferior para lojas, que possuía uma cozinha com lareira e pavimento lajeado, bem como um armário embutido na parede e um nicho rematado por uma cruz. No quintal existe um poço.
4. Pelourinho de Sortelha
Pelourinho Manuelino de tabuleiro Mandado construir em 1510 por D. Manuel situa-se no Largo fronteiro à Casa da Câmara e Cadeia no sopé do castelo. Exibe seis degraus octogonais, a coluna não possui base e o capitel é canelado com secção circular. Sobre este existe uma peça em forma de losango, com lados curvos.

O remate é efectuado em tabuleiro, originando uma imagem de secção circular, devido à sobreposição de anéis em forma crescente, onde assentam quatro colunelos. No topo encontra-se uma esfera armilar alongada atravessada por um espigão em ferro.
5. Igreja Matriz de Sortelha
A Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora das Neves, fica localizada no Largo da Igreja, dentro do perímetro amuralhado. Inclui, para além da igreja, a torre sineira, um passo da via sacra e algumas sepulturas escavadas na rocha. Embora, actualmente, o que podemos observar corresponda a uma igreja renascentista, a sua construção poderá datar do século XVI, uma vez que no portal possui a data de “1573”. Foi Vigaria do padroado real e Comenda da Ordem de Cristo. Ao longo dos séculos sofreu profundas alterações.

Possui uma planta longitudinal, uma única nave, cornija e gárgulas de canhão. O portal principal é caracterizado por arco pleno, pilastras caneladas, capitel de inspiração jónica e esferas armilares. No interior da capela-mor podemos observar um tecto mudéjar. Saliente-se, ainda, o púlpito renascentista, retábulos de estilo renascentista, maneirista, nacional e joanino, um baixo-relevo na fachada principal e a pia baptismal assente sobre três degraus. Na parede lateral da capela-mor existe uma imagem gótica de Nossa Senhora das Neves com o menino ao colo. A cabeça desta imagem foi decepada, segundo diz a lenda, por um soldado napoleónico que se queria certificar se a imagem seria de ouro.
6. Igreja da Misericórdia
A Igreja da Misericórdia (Igreja de Santa Rita ou de São João) fica situada no exterior do recinto amuralhado, e tem origens medievais, pois em 1320 era taxada em 70 libras, como Igreja de São João. A Igreja da Misericórdia foi transferida para este edifício em 1626, altura em que terá sido ampliada. A atribuição do nome de Santa Rita a este templo relaciona-se, possivelmente, com a grande devoção da população a esta santa e a existência de uma imagem da mesma, num dos altares da igreja.

O imóvel encontra-se em ruínas há mais de 50 anos e apresenta planta rectangular com nave única, que actualmente não possui cobertura. O portal principal é em arco abatido, encimado por duas janelas de lintel recto. No interior, o arco triunfal é de volta inteira e a base do púlpito é decorada com voluta e motivo antropomórfico medieval. Tem ainda a sacristia adossada do lado sul e sobra ainda a armação em ferro forjado do seu primitivo campanário.
7. Casa dos Falcões
Algumas das casas em pedra oferecem a Sortelha a sua atmosfera medieval quando passeamos pelos seus largos e ruelas, visto algumas serem de especial relevo. É o caso da Casa dos Falcões, da Casa com Janela Manuelina, Casa do Governador, Casa da Câmara e da Cadeia, Casa Árabe, a chamada Casa Número Um e ainda a Residência Paroquial ou Passal, entre inúmeros solares e casas senhoriais que também merecem um olhar atento.

Edifício do século XVI, localizado em frente à fonte de mergulho, a Casa dos Falcões, com remodelações no século XVIII, sofreu influências vernaculares. Exibe planta quadrangular, com dois pisos (sendo o piso térreo para fins comerciais e o primeiro andar para residência), vãos de lintel recto sem moldura saliente e escada com patamar moldurado.
8. Casa número 1
Data presumivelmente do Séc. XIII, datação apoiada na fresta medieval e no facto de ter pertencido aos Ferreira Ferraz, antigos alcaides da Sortelha. Embora o edifício não possua nenhum elemento medieval comprovado, a sua possível construção corresponde aos Séc. XVI-XVIII.

Possui influências vernaculares e classicistas. Apresenta diferenciação entre os dois pisos, uma escada exterior adossada à casa contígua e vãos de lintel recto, sendo que apenas uma janela possui moldura saliente lisa. O nome do edifico advém de uma inscrição que possui numa das portas a nível térreo.
9. Passos da Via Sacra
No século XVIII, mais especificamente em 1742, foram edificados Passos da Via Sacra com motivos decorativos de influência barroca: nicho de lintel recto, coroamento com volutas, rosetas, triângulos e lintel saliente, muito semelhante a uma cornija.

O conjunto é constituído por cinco passos, semelhantes entre si, espalhados pela povoação, sempre adossados a paredes: a Capela de São Sebastião, pano de muralha na Porta da Vila, entrada do castelo no Largo do Pelourinho, cabeceira da Igreja Matriz e outro junto à Porta Falsa, na Rua Dá Mesquita.
10. Sepulturas antropomórficas
Em torno das duas igrejas de Sortelha, especialmente na Igreja da Misericórdia, no exterior das portas, existem ainda abundantes vestígios de sepulturas escavadas na rocha. Os adros foram, durante muitos séculos, lugares privilegiados de enterramento dos defuntos. Era uma prática comum que atesta a antiguidade destes templos.

As sepulturas foram sendo abertas no afloramento granítico e algumas perduram actualmente bem conservadas, apresentando morfologia antropomórfica, oval ou rectangular. Existem de tamanho adulto e infantil. Com a colocação de pavimento na envolvente das igrejas muitas ficaram soterradas.
11. Residência Paroquial
O edifício que foi residência paroquial, situado na Rua Direita, é um dos melhores imóveis da Vila. Tem planta quadrangular, com dois pisos. Datável do séc. XVI, sofreu remodelação em 1756, conforme a data gravada no lintel da porta principal. Por cima desta uma composição apresenta uma cruz perolada e uma Cruz de Malta, pelo facto de um dos vigários ter sido Comendador da Ordem de Malta.

Uma das janelas do piso superior possui uma pequena cruz gravada no exterior do peitoril. Tem também uma interessante marca cruciforme na ombreira direita, assente sobre o anagrama de Cristo IHS.
12. Cabeça da Velha
Nesta região de acidentado relevo e de escasso revestimento vegetal abundam as formações graníticas de aspecto bizarro que, modelados pelos agentes erosivos naturais (vento e chuva), adquirem curiosas fisionomias de conotações fantasiosas que decoram e alegram o cenário envolvente a Sortelha.

Muitas delas possuem diversos topónimos sugestivos associados e até algumas lendas. Em Sortelha destaca-se a conhecida Cabeça da Velha, pela sua fisionomia que lembra um rosto envelhecido pela idade.