A ocupação ilegal de imóveis continua a gerar controvérsia em vários países europeus e a levantar dúvidas sobre a proteção efetiva dos direitos de propriedade.
Em França, um caso ocorrido na Córsega voltou a expor fragilidades legais que podem colocar proprietários numa posição paradoxal perante a lei.
O episódio mais recente envolve uma família de Bastia, onde uma ocupante ilegal chegou a chamar a polícia para expulsar a filha da proprietária do jardim da casa, enquanto esta tentava apanhar fruta de uma árvore plantada pela família há várias décadas.
Um conflito que se arrasta desde 2017
De acordo com o jornal espanhol Noticias Trabajo, o caso começou em 2017, quando Valérie, proprietária do imóvel, decidiu colocá-lo à venda. Durante esse processo, uma mulher na casa dos 40 anos mostrou interesse na habitação.
Pouco tempo depois, Valérie apercebeu-se de que a fechadura tinha sido alterada. A potencial compradora tinha ocupado a casa e passou a alegar ser a legítima proprietária do imóvel.
Na altura, a legislação francesa não dispunha de mecanismos específicos para lidar rapidamente com ocupações ilegais, o que obrigou a proprietária a recorrer aos tribunais num processo longo e complexo.
Uma decisão judicial sem efeitos imediatos
Apesar de uma ordem judicial de desocupação ter sido emitida apenas em 2024, a decisão não teve aplicação imediata. A saída da ocupante ficou agendada apenas para setembro de 2025, quase um ano e meio depois da sentença.
Durante esse período, a família manteve-se afastada da casa, acumulando encargos financeiros e vivendo numa situação prolongada de incerteza, sem garantias claras sobre a recuperação do imóvel.
O episódio que indignou a opinião pública
Um dos momentos mais polémicos do caso foi relatado por Isabelle, filha da proprietária, ao jornal Le Figaro Immobilier.
Ao dirigir-se ao jardim para apanhar clementinas de uma árvore plantada pelo avô em 1933, Isabelle foi confrontada pela ocupante, que acabou por chamar a polícia.
As autoridades ordenaram a sua saída do terreno, apesar de se tratar de propriedade da família. Em termos legais, a situação chegava ao ponto de a ocupante poder, em teoria, apresentar queixa por “invasão de domicílio”.
Impacto familiar e debate jurídico
O prolongamento do processo teve consequências significativas para a família. Isabelle referiu o impacto emocional e físico que a situação provocou na mãe, bem como a perturbação contínua das rotinas familiares.
Este caso juntou-se a outros semelhantes que têm alimentado o debate em França e noutros países europeus sobre a necessidade de leis mais eficazes, capazes de proteger os proprietários sem comprometer garantias legais fundamentais.
Com vários governos a discutir reformas nesta matéria, cresce a pressão para evitar que episódios como este continuem a ocorrer, colocando em causa a confiança no sistema jurídico e na defesa do direito de propriedade.







