Durante décadas, o som das notas a sair de uma máquina Multibanco fez parte do quotidiano dos portugueses. Era sinónimo de autonomia e segurança.
Contudo, com o avanço dos pagamentos digitais e o uso crescente de carteiras no telemóvel, o papel das máquinas automáticas está a mudar. A questão impõe-se: o que acontecerá ao Multibanco quando o dinheiro físico deixar de circular?
As máquinas não vão desaparecer – vão transformar-se
Ao contrário do que muitos pensam, o Multibanco não está em vias de extinção. Está, sim, a adaptar-se a uma nova era.
Inspirada em países como a Suécia e a Noruega, onde as transações em numerário são cada vez mais raras, a rede portuguesa prepara-se para se tornar um verdadeiro centro digital de serviços bancários.
As futuras máquinas deixarão de servir apenas para levantar dinheiro. Serão pontos de contacto avançados entre o utilizador e o banco, permitindo efetuar transferências, confirmar pagamentos, gerar cartões virtuais, solicitar documentos ou autenticar-se com o Cartão de Cidadão — tudo sem recorrer a numerário.
Os bancos pretendem transformar o Multibanco numa extensão física das suas aplicações móveis: segura, acessível e permanentemente disponível.
Menos máquinas, mas mais inteligentes
Atualmente, Portugal conta com cerca de 12 mil caixas automáticas. Esse número deverá diminuir para metade na próxima década, mas as que permanecerem serão mais completas e tecnológicas.
As antigas máquinas, limitadas à entrega de notas, vão dar lugar a terminais multifunções localizados em espaços de grande afluência, como supermercados, centros comerciais e estações ferroviárias.
Esses novos equipamentos permitirão gerir contas, contactar o banco por videochamada, desbloquear cartões e até autenticar operações por reconhecimento facial ou ligação ao telemóvel.
Segurança reforçada e novas formas de autenticação
Com menos dinheiro físico em circulação, os riscos também se deslocam do assalto tradicional para o crime digital.
As futuras máquinas Multibanco vão apostar em autenticação biométrica, impressão digital e integração com o smartphone do utilizador. Cada operação será confirmada na aplicação bancária, e os recibos passarão a ser exclusivamente digitais.
O hábito de tapar o teclado para esconder o PIN dará lugar à preocupação com a proteção do ecrã do telemóvel — o novo ponto sensível da segurança financeira.
O telemóvel substitui o cartão
Tal como os cheques caíram em desuso, também os cartões físicos estão destinados a desaparecer. Em breve, bastará encostar o telemóvel à máquina para que esta reconheça automaticamente o utilizador. A autenticação será feita por biometria ou toque num botão, eliminando códigos e esquecimentos.
Esta integração total entre o Multibanco e os dispositivos móveis tornará as operações mais rápidas e seguras.
E o papel-moeda?
O dinheiro físico não desaparecerá de imediato. Durante muitos anos continuará a ser usado, sobretudo por pessoas mais velhas ou residentes em zonas rurais.
Por essa razão, algumas máquinas continuarão a disponibilizar notas, embora em menor número e localizadas em pontos estratégicos.
Em vez de um Multibanco em cada esquina, existirão centros multifuncionais onde será possível levantar dinheiro, pagar contas, comprar bilhetes e tratar de pequenas burocracias num só lugar.
O Multibanco não vai desaparecer, mas sim evoluir. Deixará de ser uma simples máquina de levantamento para se tornar um balcão digital disponível 24 horas por dia.
O cartão físico será substituído pelo telemóvel, e o dinheiro em papel tornar-se-á, aos poucos, uma lembrança de um tempo em que as notas ainda faziam parte do som do quotidiano.







