A língua portuguesa nasceu na Europa, mas cresceu no mundo. No Brasil, ganhou novas cores, sons e sentidos — resultado do contacto com línguas indígenas, africanas e outras influências culturais que ali se entrelaçaram desde o século XVI.
Ao longo do tempo, algumas dessas palavras atravessaram o Atlântico e acabaram por se integrar também no português europeu, muitas vezes sem que disso se desse conta. Algumas têm raízes no tupi, no guarani ou em línguas africanas como o quimbundo. Outras nasceram da convivência quotidiana entre povos colonizados e colonizadores.
Aqui ficam 12 palavras com origem no Brasil que hoje fazem parte do léxico português — e que contam, cada uma à sua maneira, um pedaço da história comum entre dois mundos.
1. Abacaxi
Do tupi i’bá ká’ti, “fruto que exala cheiro agradável”, o abacaxi chegou à Europa via Brasil. Em Portugal, convive com a palavra ananás — mas “abacaxi” tende a ser usado para designar frutos de maior qualidade, geralmente importados.
2. Arara
A palavra vem do tupi a’rara, que imita o som emitido por estas aves tropicais. Coloridas e inteligentes, as araras são símbolo da biodiversidade sul-americana — e também alvo de tráfico e destruição de habitat.
3. Bagunça
Expressão do quotidiano brasileiro, “bagunça” tem origem no quimbundo kufunga, que significa “amarrar”. Em português europeu, entrou com o mesmo sentido: desordem, confusão… e por vezes, diversão.
4. Cafuné
Vem do quimbundo kifumate, e designa o gesto carinhoso de passar a mão nos cabelos de alguém. É uma palavra delicada, associada ao afeto e à intimidade — e embora menos usada em Portugal, não é desconhecida.
5. Caju
Do tupi aca-iú, “fruto amarelo”, o caju é peculiar: o que parece fruto é, na verdade, o pedúnculo carnudo; o verdadeiro fruto é a castanha. Chegou a Portugal com o nome intacto, e continua presente em licores, sumos e merendas.
6. Canoa
De origem aruaque (kanawa), a canoa era já usada pelos povos indígenas muito antes da chegada dos europeus. Leve, prática e ideal para os rios sul-americanos, rapidamente foi adotada pelos colonizadores e passou a integrar o vocabulário marítimo.
7. Capoeira
Do tupi ka’a puera — “mato raso” ou “mato que foi cortado” —, a palavra passou a designar a prática criada por escravizados africanos no Brasil. A mistura de dança, luta e música transformou-se numa das maiores expressões culturais brasileiras e é hoje reconhecida pela UNESCO.
8. Carioca
Deriva de kari’oka, “casa do homem branco”, expressão usada pelos indígenas para se referirem aos colonizadores portugueses instalados na baía de Guanabara. Hoje, “carioca” é sinónimo de habitante do Rio de Janeiro — e símbolo de um estilo de vida descontraído e urbano.
9. Jacaré
Do tupi îakaré, “semelhante a um galho”. Este réptil impressiona pela força, pelo tamanho e pela aparência pré-histórica. A palavra, exótica aos ouvidos europeus, adaptou-se sem dificuldade e continua a ser usada em Portugal.
10. Mandioca
Do tupi mani-oka, “casa de Mani”, nome de uma lenda indígena. Rica em amido, a raiz da mandioca é alimento base no Brasil e em muitos outros países. Em Portugal, o termo entrou sobretudo por via gastronómica.
11. Maracujá
Vem do tupi mara kuya, “fruto que serve”. Ácido e aromático, é conhecido pelas propriedades calmantes e pelo sabor intenso. Em Portugal, o maracujá está presente em sumos, sobremesas e expressões do verão tropical.
12. Tapioca
Do tupi tipi’oka, “coágulo”, a tapioca é feita com fécula de mandioca hidratada. Consumida em forma de panqueca, doce ou salgada, é típica do nordeste brasileiro. Em Portugal, ganhou popularidade nos últimos anos como opção sem glúten.
Estas palavras mostram que o português europeu também é, em parte, filho do português do Brasil — e, por extensão, das línguas que ali se falaram muito antes da chegada dos colonizadores. A troca lexical continua, e é isso que mantém a língua viva: a capacidade de absorver, transformar e partilhar.










