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10 dos melhores poemas de Miguel Torga

Miguel Torga, médico e poeta transmontano, deixou uma obra marcada pela verdade, pela terra e pela condição humana. Descubra 10 dos seus poemas mais intensos.

VxMag by VxMag
Ago 22, 2025
in Cultura
6
Miguel Torga

Miguel Torga

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Mais do que um dos grandes nomes da poesia portuguesa, Miguel Torga foi um homem profundamente ligado à terra, à palavra e à condição humana.

Médico de profissão, transmontano de alma inteira, destacou-se pela integridade com que viveu, pela lucidez com que escreveu e pela ligação íntima que manteve com as origens.

Nascido em 1907, em São Martinho de Anta, no concelho de Sabrosa, Adolfo Correia da Rocha — o nome civil que deixou para trás — escolheu para si o pseudónimo Torga, planta resistente que cresce nas fragas, símbolo claro da sua própria forma de estar no mundo.

Ao longo da vida, cruzou fronteiras físicas e intelectuais, mas foi sempre em Portugal, e sobretudo na relação entre o indivíduo e a sua terra, que encontrou o centro da sua escrita.

Com uma obra extensa que inclui poesia, prosa e diário, Torga deixou-nos textos marcados pela busca da verdade e por uma inquietação existencial que não cedeu a modas nem conveniências.

Nesta seleção, revisitamos dez dos seus poemas mais marcantes — textos que atravessam temas como o amor, a morte, a fé e o regresso, e que continuam a tocar leitores de todas as gerações.

 

1. SÚPLICA (Miguel Torga)

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria…
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

 

2. MÃE (Miguel Torga)

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti – não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto – sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

 

3. SÍSIFO (Miguel Torga)

Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

 

4. LIVRO DE HORAS (Miguel Torga)

Aqui diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.

Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,

e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.

Me confesso
o dono das minhas horas
O dos facadas cegas e raivosas,
e o das ternuras lúcidas e mansas.

E de ser de qualquer modo
andanças
do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!

 

5. COMEÇO (Miguel Torga)

Magoei os pés no chão onde nasci.
Cilícios de raivosa hostilidade
Abriram golpes na fragilidade
De criatura
Que não pude deixar de ser um dia.
Com lágrimas de pasmo e de amargura
Paguei à terra o pão que lhe pedia.

Comprei a consciência de que sou
Homem de trocas com a natureza.
Fera sentada à mesa
Depois de ter escoado o coração
Na incerteza
De comer o suor que semeou,
Varejou,
E, dobrada de lírica tristeza,
Carregou.

 

6. PRECE (Miguel Torga)

Senhor,
deito-me na cama
Coberto de sofrimento;
E a todo o comprimento
Sou sete palmos de lama:
Sete palmos de excremento
Da terra-mãe que me chama.

Senhor, ergo-me do fim
Desta minha condição
Onde era sim, digo não
Onde era não digo sim;
Mas não calo a voz do chão
Que grita dentro de mim.

Senhor, acaba comigo
Antes do dia marcado;
Um golpe bem acertado,
O tiro de um inimigo…..
Qualquer pretexto tirado
Dos sarcasmos que te digo.

 

7. SÃO LEONARDO DA GALAFURA (Miguel Torga)

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

 

8. TRANSFIGURAÇÃO (Miguel Torga)

Tens agora
outro rosto, outra beleza:
Um rosto que é preciso imaginar,
E uma beleza mais furtiva ainda…
Assim te modelaram caprichosas,
Mãos irreais que tornam irreal
O barro que nos foge da retina.
Barro que em ti passou de luz carnal
A bruma feminina…

Mas nesse novo encanto
Te conjuro
Que permaneças.
Distante e preservada na distância.
Olímpica recusa, disfarçada
De terrena promessa
Feita aos olhos tentados e descrentes.
Nenhum mito regressa….
Todas as deusas são mulheres ausentes…

 

9. O REGRESSO (Miguel Torga)

“Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar.
Ouvi, agora, Senhores
Uma história de pasmar…”
A Mãe correu à varanda,
Bem longe de imaginar
Que o alarme desejado
Vinha dum cego a cantar:
“Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar…”
A Mãe abriu num soluço
O coração a sangrar,
Porque a sola era tão rija
Que a não podiam tragar…
“Deitam sortes à ventura
Qual se havia de matar”.
(A Mãe tinha pão na arca
E não lho podia dar!)
“Logo foi cair a sorte…”
(Que sorte tão singular!).
O gageiro olhava, olhava,
Mas só via céu e mar…
“Alvíssaras, Capitão…”
E o vento a enrodilhar
A voz do homem da gávea
Na do ceguinho a cantar!
“A minha alma é só de Deus,
O corpo dou-o eu ao mar…”
A Mãe, que nada podia,
Já só podia rezar…
“Deu um estoiro o demónio,
Acalmaram vento e mar.”
E quando o cego acabou
Estavam em terra a varar…

 

10. SEI UM NINHO (Miguel Torga)

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar…

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Comments 6

  1. Henrique Lavrador says:
    7 anos ago

    Gostei , grandePoeta

    Responder
  2. Eugenia Chora says:
    7 anos ago

    Gostei muito dos poemas. Principalmente de A prece e o poema à Mãe. Estou grata pela oportunidade.

    Responder
  3. Paulo Rodrigo says:
    7 anos ago

    Gostei muito destas poesias, todas com muito sentido de vida. Divulguem mais este poeta para que o conheçamos melhor. Obrigado.

    Responder
  4. Maria do Carmo Alves Vieira says:
    6 anos ago

    A primeira imagem de MIGUEL TORGA é uma pintura a óleo. Falta identificar o autor, neste caso a autora que é Do Carmo Vieira.

    Responder
  5. Regina Xavier Teixeira says:
    6 anos ago

    Maravilhoso

    Responder
  6. José chagas says:
    3 anos ago

    Um dos maiores poeta da literatura portuguesa. Fantástico.

    Responder

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