Imagine entrar numa capela onde as paredes, os pilares e o teto estão cobertos de ossos e crânios humanos. Onde há uma frase na entrada que diz: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”. Onde há dois esqueletos inteiros pendurados por correntes, um deles de uma criança. Onde há frescos com cenas da paixão de Cristo e um painel azulejar que contrapõe a morte à vida.
Parece um cenário de filme de terror, mas é uma realidade em Évora, uma das mais belas e históricas cidades de Portugal. Estamos a falar da Capela dos Ossos, um dos monumentos mais conhecidos e arrepiantes do país, que atrai milhares de visitantes todos os anos.
Mas o que leva alguém a querer ver uma capela tão sinistra? Qual é a história por trás desta construção? Qual é a mensagem que os seus criadores quiseram transmitir? E como fazer para visitar este lugar tão peculiar?

A história da Capela dos Ossos
A Capela dos Ossos foi construída no século XVII, no local do antigo dormitório do convento franciscano que estava anexo à Igreja de São Francisco. A ideia partiu de três monges franciscanos que, seguindo um modelo então em voga na Europa, quiseram criar um lugar que provocasse pela imagem a reflexão sobre a transitoriedade da vida humana e o consequente compromisso de uma permanente vivência cristã.
Além da questão espiritual, também havia uma questão prática: existiam na região de Évora cerca de quarenta cemitérios monásticos que ocupavam demasiado espaço e locais estratégicos que muitos pretendiam utilizar para outros fins. Assim, decidiram retirar os esqueletos da terra e usá-los para construir e decorar a capela.
Estima-se que foram usados cerca de cinco mil ossos, entre crânios, vértebras, fémures e outros, provenientes dos cemitérios situados em igrejas e conventos da cidade. Os ossos foram ligados com cimento pardo e dispostos pelas paredes, teto, colunas e mesmo no exterior da capela. Há ainda dois esqueletos inteiros pendurados por correntes numa das paredes, sendo um deles o de uma criança.

A capela era dedicada ao Senhor dos Passos, uma imagem conhecida na cidade como Senhor Jesus da Casa dos Ossos, que impressiona pela expressividade com que representa o sofrimento de Jesus Cristo na sua caminhada com a cruz até ao calvário. Os frescos que decoram o teto abobadado, datados de 1810, apresentam uma variedade de símbolos ilustrados por passagens bíblicas e outros com os instrumentos da paixão de Cristo.
À saída da capela, na parede fronteira, há um painel azulejar da autoria do arquiteto Siza Vieira, que contrapõe à alusão da morte o milagre da vida.
Entre julho de 2014 e outubro de 2015, a capela passou por uma reforma avaliada em 3,5 milhões de euros, para o restauro de danos ocorridos com o tempo e construção de um museu de arte sacra e outro para exposições temporárias.
A mensagem da Capela dos Ossos
A Capela dos Ossos não é apenas um lugar macabro e curioso. Ela tem também uma mensagem profunda e desafiadora, que nos faz pensar sobre o sentido da vida e da morte.
A frase que se lê na entrada da capela, “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”, é um convite a refletir sobre a nossa condição mortal e a nossa esperança cristã. Os ossos que ali estão representam os nossos antepassados, que já partiram desta vida e que aguardam pela ressurreição dos mortos. Lembram-nos que um dia também seremos como eles, e que devemos viver de acordo com os valores do Evangelho.
A capela também nos convida a valorizar a vida, que é um dom de Deus e que deve ser vivida com gratidão, alegria e amor. O painel azulejar que se vê à saída da capela é uma forma de contrapor a morte à vida, mostrando que há uma esperança maior do que o fim dos nossos dias terrenos. A vida é um milagre, e devemos aproveitá-la ao máximo, sem esquecer o nosso destino eterno.
A Capela dos Ossos é, assim, um lugar que nos faz sair da nossa zona de conforto e nos confronta com questões existenciais. É um lugar que nos faz sentir pequenos, que nos faz reconhecer a nossa fragilidade e que nos faz crescer na fé e na esperança.
Como visitar a Capela dos Ossos
A Capela dos Ossos está situada no sul do centro histórico de Évora, junto à Igreja de São Francisco. A entrada na capela custa 5 euros por pessoa, e inclui também o acesso ao museu de arte sacra e ao museu para exposições temporárias. O horário de funcionamento é das 9h às 18h30, todos os dias da semana.
Para visitar a capela, é preciso respeitar algumas regras, como não tirar fotografias ou filmar no interior, não tocar nos ossos ou nas paredes, não fazer barulho ou comentários desrespeitosos, e não levar animais ou objetos cortantes.
A visita à capela pode ser feita de forma livre ou guiada, sendo que há guias disponíveis em português, inglês, francês e espanhol. A visita guiada tem uma duração aproximada de 30 minutos e permite conhecer melhor a história e o significado da capela.
A Capela dos Ossos é um dos pontos turísticos mais procurados em Évora, por isso é recomendável chegar cedo para evitar filas ou aglomerações. A visita à capela pode ser combinada com outros locais de interesse na cidade, como o Templo Romano, a Sé Catedral, o Palácio dos Duques de Cadaval ou o Aqueduto da Água de Prata.