O Banco de Portugal emitiu um alerta dirigido a utilizadores de plataformas de compra e venda de artigos usados — como OLX e Vinted — dado o aumento de esquemas de burla cada vez mais sofisticados.
A proliferação destas fraudes está fortemente associada à popularização da aplicação MB WAY, bem como ao uso de técnicas de engenharia social que tiram partido de desconhecimento ou distração dos utilizadores.
Segundo explicações do regulador, o modus operandi é muitas vezes semelhante: o burlão entra em contacto, demonstra interesse no artigo à venda, não negocia preço ou o faz de forma mínima — o que já deveria levantar dúvidas —, e propõe usar o MB WAY como meio de pagamento, oferecendo ajuda para “facilitar” o processo.
Como os esquemas funcionam – dois cenários típicos
Existem dois cenários principais identificados pelas autoridades:
- Vendedor que ainda não tem MB WAY: o esquema passa por convencer o vendedor a aderir à aplicação num multibanco. O burlão orienta o vendedor para que este associe o número de telemóvel do próprio burlão à aplicação, sob o pretexto de “autorização de pagamento”. O resultado é que o burlão fica com acesso direto à conta bancária do vendedor.
- Vendedor já utiliza MB WAY: aqui o burlão pede o número de telemóvel do vendedor, alegando que vai fazer o pagamento. No entanto, utiliza a função “Pedir dinheiro” em vez de “Enviar dinheiro”. Se o vendedor autorizar, está afinal a transferir o valor para o burlão em vez de o receber.
Por que é que estas burlas têm tanto êxito?
Alguns fatores explicam a eficácia destes golpes:
- A crescente utilização do MB WAY torna-o um meio de pagamento aparentemente natural para muitas pessoas, o que reduz a desconfiança.
- Os burlões aproveitam a urgência ou o entusiasmo da venda (o vendedor quer um comprador rápido) para pressionar e contornar os procedimentos normais.
- A falta de familiaridade técnica ou financeira de muitos utilizadores com a app facilita a manipulação.
- Em paralelo, surgem esquemas de phishing (e-mails ou mensagens fraudulentas a imitar o MB WAY, bancos ou entidades oficiais) que visam obter dados ou induzir comportamentos inseguros.
Proteções adicionais que importa ter em conta
Ainda que já se conheçam várias recomendações básicas — como não partilhar dados pessoais ou documentos, evitar pagamentos antecipados e preferir entregas presenciais ou à cobrança — é útil reforçar outras medidas com base nas fontes recentes:
- Verificar sempre se a aplicação MB WAY ou qualquer outro meio de pagamento está a funcionar normalmente e se o número de telemóvel associado é efetivamente o seu.
- Desconfiar se for solicitado que se associe o número de telemóvel de terceiros à aplicação ou se for pedido que se forneça o PIN, código ou se aceda a multibanco para “autorizar pagamento”.
- Monitorizar regularmente os movimentos da conta bancária e activar alertas no banco para transacções suspeitas.
- Em caso de burla, agir rapidamente: contactar o banco, reportar às autoridades competentes e conservar todas as provas (print-screens de mensagens, e-mails, SMS, etc.). A DECO Proteste salienta que a recuperação do dinheiro nem sempre é viável, sobretudo se o cliente tiver autorizado involuntariamente a operação.
- Educar familiares ou amigos mais vulneráveis sobre estes esquemas, para que também fiquem alertas.
O que fazer se for vítima
Se suspeitar que foi alvo de uma burla:
- Imediatamente, contactar o banco para suspender ou bloquear a aplicação MB WAY ou mudar acessos.
- Apresentar queixa à polícia ou ao Ministério Público, com todas as provas.
- Documentar todos os contactos com o burlão, bem como eventuais códigos introduzidos, e guardá-los.
- Verificar se existe a possibilidade de reverter ou recuperar o valor — o banco pode exigir que se prove que não teve culpa, o que nem sempre é possível.
Com a utilização crescente das plataformas de compra e venda de artigos usados e dos meios de pagamento instantâneos como o MB WAY, torna-se fundamental manter um elevado grau de vigilância.
O alerta do Banco de Portugal surge num momento oportuno para reforçar os cuidados: não basta apenas “ser cauteloso” — importa entender bem como funcionam as aplicações, reconhecer os sinais de fraude e agir atempadamente em caso de suspeita.
Só assim se reduz o risco de se tornar mais uma vítima destas práticas que estão longe de desaparecer.







