Um talão abandonado numa caixa automática parece, à primeira vista, algo sem importância. Muitas pessoas têm o hábito de espreitar rapidamente o papel esquecido, seja por curiosidade, seja para perceber se alguém o deixou por engano.
No entanto, esse gesto banal tem sido usado como ponto de partida para um esquema que se tem multiplicado em vários pontos do país.
A técnica assenta num elemento simples: a perceção de que um talão com movimentos ou saldo transmite normalidade e confiança. É precisamente essa aparência inofensiva que torna o golpe eficaz.
Como funciona o esquema do recibo esquecido
O método segue um padrão que, apesar de simples, tem enganado várias vítimas:
- Preparação do cenário
O burlão dirige-se ao multibanco e imprime um talão com saldo ou movimentos. De seguida, deixa-o propositadamente na ranhura ou pousado no terminal, como se alguém o tivesse esquecido. - A aproximação da vítima
Quem chega à máquina repara no papel e, por impulso, lê-o ou pega nele. Esse pequeno gesto confirma ao burlão que encontrou alguém disposto a interagir. - A chegada do cúmplice
Surge então uma segunda pessoa, que se apresenta como “dona” do talão. Normalmente, surge apressada, visivelmente preocupada e com uma explicação já preparada. - O pedido enganador
A história varia, mas a estratégia é semelhante: a conta estaria bloqueada, faltaria confirmar dados ou seria necessário concluir um “passo final” para desbloquear o acesso. É então pedido à vítima que introduza o seu cartão e realize uma pequena transferência.
O argumento é quase sempre idêntico: “Se fizer só uma transferência de 1€ ou 2€, já consigo confirmar que a conta está desbloqueada.”
Na prática, o pedido serve para testar a reação da vítima. Se aceitar a primeira transferência, torna-se mais vulnerável a novos pedidos.
A insistência cresce e os valores aumentam. Além disso, durante a operação, os burlões podem observar o PIN ou preparar-se para furtar o cartão.
Porque é que o golpe resulta tantas vezes
O esquema tem sucesso por combinar vários factores:
- Curiosidade natural perante um talão esquecido.
- Perceção de legitimidade, já que a situação ocorre num equipamento bancário.
- Pressão social, com um falso apelo à urgência e à necessidade de ajudar.
- Montantes baixos, que reduzem a suspeita inicial.
Estes elementos criam um ambiente que facilita a manipulação e desarma potenciais vítimas.
Casos registados em Portugal
As autoridades já identificaram várias situações semelhantes. Há relatos de quem tenha transferido pequenos montantes e, logo depois, recebeu novos pedidos, acabando por perder quantias mais significativas.
Noutros casos, o talão serviu apenas de distração. Enquanto a vítima se concentrava no papel e na conversa, um cúmplice tentava furtar objetos ou observar discretamente o código usado na máquina.
É por isso que a Polícia de Segurança Pública e a GNR têm vindo a alertar para este tipo de abordagem, lembrando que as caixas automáticas são um alvo frequente de tentativas de burla.
Como prevenir situações deste tipo
- Ignorar talões abandonados e não lhes dar importância.
- Evitar interagir com estranhos, por mais credível que a história pareça.
- Proteger sempre o PIN, utilizando a mão para tapar o teclado.
- Destruir os próprios talões antes de os deitar fora.
- Optar por multibancos em locais movimentados e com boa visibilidade.
- Manter a calma e não ceder à pressão emocional, que é uma parte central da manipulação.
O que fazer se já se caiu no esquema
- Contactar imediatamente o banco para bloquear o cartão e impedir novas operações.
- Consultar os movimentos da conta e reportar transações suspeitas.
- Apresentar queixa às autoridades, mesmo quando o prejuízo é reduzido. O registo de casos ajuda a identificar padrões e contribui para prevenir novos episódios.
- Alertar familiares e amigos, para que fiquem atentos a situações semelhantes.
Um recibo esquecido pode parecer apenas sinal de distração, mas em muitos casos é a primeira peça de um plano que depende de improviso, pressão e manipulação.
Estar informado, desconfiar de pedidos inesperados e proteger os dados bancários continua a ser a forma mais eficaz de evitar este tipo de golpe.







