Entre vales recortados, socalcos extensos e vinhas que parecem não ter fim, Favaios impõe-se como uma das aldeias mais marcantes do Douro Vinhateiro. Pertence ao concelho de Alijó e tornou-se quase sinónimo de moscatel, o licor que lhe deu fama dentro e fora de Portugal.
Mas a aldeia é muito mais do que o vinho que a tornou célebre: há património, história, paisagens generosas e uma relação profunda entre a comunidade e a terra que trabalha há séculos.
A proximidade ao rio e ao traçado agrícola da região moldou a vida local. As casas senhoriais e brasonadas que marcam o centro histórico são um testemunho direto da prosperidade ligada à viticultura.
Muitas estão hoje abertas a visitantes, com provas que permitem compreender como se produz e aperfeiçoa o moscatel que distingue Favaios. As origens do povoado recuam à época romana, e ainda é possível descobrir restos das muralhas e do antigo castelo, sinais de uma ocupação antiga que estruturou o território.
A Igreja Matriz, tal como várias capelas construídas entre os séculos XVII e XIX, reforça a presença religiosa na paisagem. Já o Museu do Pão e do Vinho junta duas tradições que continuam vivas: a produção vinícola e a preparação do pão de Favaios, um dos mais apreciados da região. O museu revela utensílios, memórias e processos que explicam a importância destes produtos no quotidiano local.
A batalha pelo moscatel que marcou a aldeia
A história recente de Favaios é marcada por um episódio que diz muito sobre a resiliência dos seus habitantes. Nos anos 30, a Casa do Douro impôs regras que pretendiam limitar o uso de aguardente de vinhas situadas acima dos 500 metros de altitude. Para Favaios, cujos terrenos superavam essa cota, isso significava o fim do moscatel.
A resposta foi firme: os produtores uniram-se e fundaram uma cooperativa própria. Começaram com cerca de 100 membros; hoje são mais de 600, e o Moscatel de Favaios é um dos vinhos licorosos mais reconhecidos do país. A história tornou-se um símbolo de identidade, independência e capacidade de resistência perante decisões externas.
Miradouros, aldeias vizinhas e paisagens para explorar
A visita à aldeia pede tempo para caminhar com calma, observar o casario e perceber a forma como as tradições se mantêm. Depois da descoberta do centro histórico, os miradouros próximos revelam a escala do vale.
O do Ujo é um dos mais procurados, com uma vista ampla sobre socalcos e vinhas. O de São Lourenço e o de Casais do Douro permitem observar a aldeia a partir de outros ângulos, sempre com a paisagem duriense em destaque.
A poucos quilómetros, o Pinhão é quase paragem obrigatória. A estação de caminho-de-ferro, decorada com painéis de azulejo que retratam o Douro, é um dos postais da região. Nos arredores, quintas centenárias organizam visitas e provas comentadas, ideais para quem quer aprofundar o conhecimento sobre vinhos e vinhas.
Favaios é também um bom ponto de partida para descobrir outras aldeias vinhateiras. Provesende fica a cerca de meia hora e apresenta um conjunto patrimonial preservado e ruas com traçado antigo. São Martinho de Anta, berço de Miguel Torga, permite conhecer um pouco mais sobre o escritor transmontano, com visitas ao museu dedicado à sua obra.
Gastronomia e artesanato: dois sabores da identidade local
Favaios é terra de tradição gastronómica. O pão da aldeia é presença constante nas refeições e tem uma reputação que ultrapassa o concelho. A doçaria local, com receitas transmitidas entre gerações, marca presença nas padarias e pequenas lojas. Os vinhos, claro, assumem lugar central, desde o moscatel a outras castas cultivadas na região.
No final da visita, vale a pena procurar peças de artesanato local. Trabalhos em linho, lã e algodão mantêm técnicas antigas e representam uma forma simples de apoiar a comunidade e levar consigo um fragmento da cultura que distingue a aldeia.
Favaios apresenta-se como um destino que combina património, vinhas, história e um vinho que se tornou símbolo nacional. Uma aldeia que continua a viver da terra e para a terra, e que mostra a quem a visita uma visão clara do que é o Douro para lá do cartão-postal.







