O Banco Central Europeu (BCE) deu um passo decisivo na criação do euro digital, uma versão eletrónica da moeda única que poderá alterar profundamente a forma como os europeus fazem pagamentos, tanto em lojas físicas como no comércio online.
De acordo com o Business Insider, o euro digital deverá entrar em fase de testes em larga escala já em 2027, com vista à adoção plena entre 2028 e 2029.
Para a presidente do BCE, Christine Lagarde, esta iniciativa é mais do que uma modernização tecnológica: representa um avanço em matéria de soberania financeira europeia, num contexto global dominado por plataformas privadas de pagamento.
Uma moeda digital ao alcance de todos
O euro digital será uma moeda oficial de curso legal em todos os países da zona euro. Na prática, qualquer cidadão poderá efetuar pagamentos com fundos digitais emitidos diretamente pelo BCE, sem depender exclusivamente dos bancos ou das operadoras privadas de cartões.
Entre as principais funcionalidades previstas estão as transferências instantâneas entre particulares e a possibilidade de pagamentos diretos por parte das administrações públicas, como reembolsos fiscais ou apoios sociais.
Outra novidade é a introdução de carteiras digitais offline, que permitirão realizar pagamentos mesmo sem ligação à internet, com limites definidos por motivos de segurança.
O calendário do euro digital
O BCE definiu uma implementação por fases:
- Até outubro de 2025: fase de preparação, com testes técnicos e análise de impactos económicos e sociais.
- 2026: aprovação da legislação europeia que definirá regras de privacidade, limites de utilização e obrigações para comerciantes.
- 2027: início dos programas-piloto em vários países da zona euro.
- 2028-2029: integração total nos sistemas de pagamento, incluindo multibanco, cartões físicos recarregáveis e aplicações móveis.
O que muda para os consumidores
O BCE garante que o euro digital será gratuito para o público, sem comissões adicionais para levantamentos, transferências ou conversões em numerário.
Os comerciantes serão obrigados a aceitar esta forma de pagamento, o que poderá reduzir a dependência de plataformas privadas como Visa, Mastercard ou PayPal, que atualmente aplicam taxas às transações.
Para evitar a exclusão digital, especialmente entre os idosos e as populações em zonas rurais, está previsto o uso de cartões físicos alternativos, permitindo aceder ao euro digital mesmo sem smartphone ou internet.
As dúvidas e os desafios
A introdução desta nova moeda levanta também algumas preocupações:
- Privacidade: há receios de que o euro digital facilite a monitorização das transações. O BCE afirma, contudo, que o sistema não será programável nem permitirá rastreamento detalhado de despesas.
- Utilidade: críticos argumentam que muitas das vantagens prometidas já estão disponíveis através de serviços existentes, como o MB Way ou os pagamentos contactless.
- Futuro do numerário: teme-se que o dinheiro físico desapareça gradualmente, mas o BCE assegura que as notas e moedas continuarão em circulação.
Um passo estratégico para a Europa
O euro digital poderá reforçar a independência tecnológica e financeira da União Europeia, reduzindo a dependência de sistemas de pagamento privados internacionais.
Entre os benefícios esperados contam-se:
- Maior segurança e resiliência face a ciberataques ou crises bancárias;
- Padronização tecnológica em toda a zona euro;
- Transações mais rápidas e transparentes entre cidadãos, empresas e administrações públicas.
Embora o investimento inicial seja elevado, especialistas acreditam que, a médio prazo, o sistema gerará poupanças estruturais e maior eficiência económica.
Um futuro inevitavelmente digital
Se o calendário for cumprido, em menos de cinco anos os portugueses poderão ter no telemóvel ou na carteira uma versão digital oficial do euro, coexistindo com o dinheiro tradicional.
A promessa do BCE é clara: um sistema gratuito, seguro e universal, que moderniza os pagamentos e coloca a Europa na linha da frente da economia digital global.







