A língua portuguesa está repleta de influências. Entre elas, o francês deixou uma marca profunda, visível tanto em palavras rebuscadas como bistrô ou croissant, como em termos do quotidiano que já ninguém estranha: boné, garagem, sutiã.
Do tempo em que Paris ditava tendências — na arte, na moda ou na diplomacia — chegaram-nos dezenas de vocábulos que, com o tempo, se tornaram nossos. Alguns mantiveram a pronúncia semelhante ao original, outros abrasileiraram-se ou adaptaram-se ao ouvido lusitano.
Eis 20 palavras com raízes francesas que hoje fazem parte natural da língua portuguesa — e as pequenas histórias que contam.
1. Boné
Antes de ser acessório urbano ou parte do fardamento desportivo, era apenas um bonnet — um simples gorro francês. Com o tempo, ganhou aba, estilo e até identidade própria.
2. Maionese
Este molho cremoso, essencial para muitas saladas e sanduíches, poderá ter nascido em Mahón, uma cidade espanhola conquistada por franceses. Outros juram que o nome vem da palavra moyeu, “gema” em francês antigo. Seja como for, a maionese veio para ficar.
3. Sutiã
Hoje é peça essencial do vestuário feminino, mas o nome vem de soutien-gorge, literalmente “suporte do peito”. Uma invenção do século XIX que trocou os espartilhos por liberdade.
4. Papel
O papier francês descende do papyrus latino — e antes disso, do Egipto. Começou por ser planta e acabou como o suporte das ideias humanas.
5. Garagem
Antes de haver parques subterrâneos ou portões automáticos, havia o verbo garer, que significava simplesmente “abrigar”. A garagem é, por isso, um abrigo — mas para carros.
6. Batom
Um pequeno cilindro colorido que nasceu de um bâton — “bastão” em francês. Mudou a forma de pintar os lábios e trouxe cor aos gestos mais simples.
7. Paletó
Esta palavra soa antiquada, mas designa um casaco clássico que vem de paletot, usado pela burguesia francesa e, mais tarde, transformado no paletó dos nossos avós.
8. Crepe
Fino, delicado e versátil, o crêpe tanto veste como alimenta. Pode ser tecido leve ou panqueca recheada — depende do contexto e da fome.
9. Crochê
Feito com uma agulha em forma de gancho (crochet), este trabalho de mãos pacientes transformou-se em arte têxtil, tradição e até passatempo.
10. Menu
Seja no restaurante ou no telemóvel, a palavra menu aponta-nos opções. Em francês, significava algo “minucioso” — e continua a ser uma pequena lista cheia de possibilidades.
11. Omelete
Simples ou recheada, esta mistura de ovos batidos com origem em omelette é quase universal. Mas foi a cozinha francesa que a elevou a prato.
12. Croissant
Forma de meia-lua, textura folhada e sabor inconfundível. Nasceu como símbolo de vitória contra os otomanos e virou pequeno-almoço internacional.
13. Puré
Do francês purée, significa “coisa passada”. E há poucas coisas mais reconfortantes do que um puré bem feito — de batata, de maçã, ou até de castanha.
14. Maquilhagem
Maquilhar-se é encenar o rosto, alterar detalhes. O termo maquillage surgiu nos bastidores dos teatros franceses antes de entrar nas casas e nos espelhos do mundo.
15. Maquete
Antes de se construir, há que imaginar. A maquette francesa deu-nos a ideia de modelo à escala — arquitectura em miniatura ao serviço do real.
16. Creche
Curiosamente, crèche era o nome da manjedoura onde nasceu Jesus, segundo a tradição cristã. Hoje, é o primeiro espaço social dos bebés — e muitas vezes o primeiro contacto com a educação.
17. Gafe
Uma palavra curta para um deslize embaraçoso. Em francês, gaffe significava “erro”. Em português, pode arruinar jantares, discursos ou campanhas.
18. Chantagem
Vem de chantage, termo ligado a extorsão. Mas em tempos antigos, podia simplesmente significar “cantar”. Ironias da etimologia.
19. Bege
Do francês beige, a cor da lã no seu estado natural. Hoje é sinónimo de neutralidade, elegância discreta e… debates sobre tonalidades de parede.
20. Tricô
O tricot francês chegou de agulhas cruzadas, fios coloridos e tardes passadas em frente à lareira. Hoje é moda, terapia e herança passada de geração em geração.
Estas palavras são pequenos vestígios de um contacto cultural profundo entre línguas e povos. E lembram-nos de que a língua portuguesa não é só nossa: é feita também de todas as influências que acolheu ao longo dos séculos — com sotaque francês, neste caso.










