Nem sempre um insulto precisa de gritar. Às vezes, basta sussurrar — com vocabulário. Criticar alguém pode ser uma arte, sobretudo quando se pretende manter a compostura, evitar a grosseria e ainda deixar uma impressão de inteligência superior.
A língua portuguesa tem recursos de sobra para isso. Há palavras discretamente afiadas, que dizem muito sem levantar a voz. São termos com um certo ar académico, quase inofensivos à primeira vista, mas que acertam no alvo com precisão cirúrgica.
Aqui ficam 10 palavras para quem quer apontar falhas alheias com classe — ou, pelo menos, com mais subtileza do que um insulto vulgar permitiria.
1. Ignóbil
Não é só feio. É indigno, vil, desprezível. Chamá-lo de ignóbil é negar-lhe qualquer traço de nobreza — com o bónus de pareceres perfeitamente calmo.
Exemplo: A sua atitude ignóbil revela mais sobre si do que qualquer palavra minha.
2. Inócuo
Pode parecer inofensivo, mas esta palavra fere o orgulho. Dizer que alguém é inócuo é dizer que é irrelevante — não causa dano, nem impacto. Nem para o mal serve.
Exemplo: As suas críticas foram tão inócuas quanto o seu desempenho.
3. Sórdido
Com um pé na sujidade e outro na mesquinhez, sórdido descreve o que há de mais repugnante — seja em hábitos, atitudes ou intenções.
Exemplo: Há qualquer coisa de sórdido na forma como manipula os outros.
4. Nefasto
Mais do que mau: desastroso, devastador. Chamar alguém ou algo de nefasto é pintar um retrato sombrio — com um toque de solenidade.
Exemplo: O seu contributo para o projeto foi, no mínimo, nefasto.
5. Impávido
Literalmente, significa “sem medo”. Mas, usado com ironia, descreve a total ausência de reacção — um elogio disfarçado de crítica à passividade.
Exemplo: Impávido, como sempre, enquanto tudo desabava à sua volta.
6. Inóspito
Mais do que antipático: inóspito é alguém difícil de suportar, como um deserto emocional. Não acolhe, não aquece — repele.
Exemplo: A sua companhia é tão inóspita quanto o clima da sala onde entra.
7. Inepto
Clássico insulto técnico. O inepto não é apenas incompetente — é inapropriado por definição. Está no lugar errado.
Exemplo: A escolha foi inepta. Mas não surpreendente.
8. Insípido
Sem sabor, sem graça, sem qualquer impacto. É o insulto ideal para quem não faz mal — mas também não faz falta.
Exemplo: Uma conversa insípida com uma presença ainda mais insípida.
9. Incauto
Ingénuo, desprevenido, facilmente enganado. Perfeito para quem se deixou levar… e não aprendeu nada com isso.
Exemplo: O incauto caiu na armadilha — mais uma vez.
10. Inerte
A pessoa inerte não se move, não reage, não toma iniciativa. É o retrato da passividade transformada em traço de carácter.
Exemplo: Perante o caos, manteve-se inerte — como seria de esperar.
Estas palavras não gritam, mas dizem muito. São ferramentas de crítica refinada, ideais para quem prefere ironia à afronta direta e conhece o prazer subtil de insultar com um dicionário aberto. Afinal, quem disse que ofender não pode ser uma forma de arte?










