Algumas palavras dizem mais do que parece. Na língua portuguesa, há termos que condensam sentimentos, experiências e ideias que raramente cabem numa tradução simples. Desafiam-nos a pensar, captam emoções difíceis de explicar ou refletem traços muito próprios da nossa forma de estar no mundo.
São também pedaços de cultura, história e identidade. E têm algo em comum: carregam significados que nos tocam de forma íntima.
Eis 10 palavras que vale a pena conhecer (ou redescobrir).
1. Saudade
Talvez a mais icónica da língua portuguesa. Saudade expressa a ausência, o desejo, a memória viva de algo ou alguém que já não está. É uma presença que falta — e uma falta que permanece.
Vem do latim solitas, associado à solidão, e ganhou força nos tempos dos Descobrimentos, quando os navegadores deixavam tudo para trás. Está na literatura, na música, na alma de quem parte e de quem fica.
2. Fado
Não é apenas um género musical. Fado é destino, é aquilo que não se escolhe, mas se aceita. Vem do latim fatum e carrega a ideia de inevitabilidade — uma certa melancolia resignada que atravessa gerações.
É também uma expressão da identidade portuguesa, feita de tristeza cantada e de resistência emocional.
3. Cafuné
Palavra herdada do quimbundo (kifumate), chegou a Portugal pelo Brasil. Cafuné é o gesto simples e íntimo de passar a mão no cabelo de alguém — sinal de ternura, cuidado, proximidade.
Mais do que um carinho, é uma pausa no tempo.
4. Desenrascanço
Dificilmente traduzível. Desenrascar é resolver um problema com o que há — mesmo quando não há quase nada. Criatividade, improviso, instinto.
É uma arte muito portuguesa, feita de urgência e engenho, e que revela a nossa capacidade de encontrar saída onde parece não haver solução.
5. Coragem
Mais do que bravura. Coragem é avançar apesar do medo. Vem de cor, coração — porque é aí que nasce a força para enfrentar o que nos desafia.
É também ousadia, risco, mudança. E, às vezes, é simplesmente continuar.
6. Abraçar
Um gesto universal, mas com camadas profundas. Abraçar é envolver, acolher, aceitar. Com os braços e com o espírito.
Vem do latim abbracciare e, em português, ganhou contornos de conforto, empatia e calor humano.
7. Paciência
Capacidade de esperar, suportar, compreender. Paciência não é passividade — é resistência calma.
Tem origem em patientia, palavra latina ligada ao sofrimento com propósito. Em português, é virtude — e prática diária.
8. Aconchego
É abrigo e calor. Aconchego descreve aquele lugar (ou aquela pessoa) onde se está bem. Onde se respira mais devagar.
Do germânico kunja, “canto”, remete para a ideia de recanto seguro, físico ou emocional.
9. Epifania
Momento de revelação, súbita e transformadora. Epifania é quando algo se torna claro — uma ideia, uma emoção, uma verdade.
Com raízes no grego epiphaneia, é usada tanto em contextos religiosos como em descobertas pessoais.
10. Apaixonar
É mais do que gostar muito. Apaixonar-se é perder o equilíbrio, entregar-se, ser arrastado por algo maior do que a razão.
A palavra vem de appassionare, em latim — e continua a ser, em qualquer época, uma das experiências mais humanas e intensas.
Estas palavras mostram como a língua portuguesa sabe nomear o que é difícil de dizer. São reflexos de uma forma de sentir, de pensar e de viver. Porque, por vezes, uma única palavra diz tudo — quando sabemos escutá-la com atenção.










