Passam 940 anos sobre a data da histórica Batalha de Pedroso, travada entre o Rei D. Garcia II e D Nuno Mendes, o último e o Conde de Portucale descendente da família de Vímara Peres. O confronto foi travado mais precisamente em 18 de Janeiro de 1071, perto de Tibães, entre Braga e o rio Cávado.
Filho de Fernando I de Leão, coube a D. Garcia II por herança o Reino da Galiza cujos domínios se estendiam até Lisboa, tendo aos seus irmãos Sancho II e Afonso VI recaído respectivamente os territórios de Castela e de Leão.
Incorporava o Reino da Galiza o Condado da Galiza e o Condado Portucalense que, não obstante, manteve sempre um elevado grau de autonomia. A sua denominação destinava-se a diferenciar daquele, tomando o nome da cidade do Porto que foi a sua primeira capital.
Cresciam já por essa época no Condado Portucalense aspirações separatistas que, encabeçadas pelo Conde de Portucale, Nuno Mendes, viriam a culminar na Batalha de Pedroso onde foi derrotado e perdeu a vida, travando por algumas décadas a desejada independência de Portugal.
Por seu turno, passou D. Garcia II a titular-se GARCIA REX PORTUGALLIAE ET GALLECIAE ou seja, Rei da Galiza e de Portugal. A ele se deve nomeadamente a restauração das sedes de Braga e Tui. Porém, o seu reinado teve existência efémera em virtude dor irmãos de D. Garcia terem formado uma coligação para lhe usurparem o poder, no que vieram a ter sucesso, tendo-o encarcerado até à sua morte, no castelo de Vermoim, em 22 de Março de 1090.
Cumprindo o seu desejo, D. Garcia foi sepultado acorrentado tal como vivera os últimos anos de sua vida. E, na lápide do seu sepulcro, foi de igual modo representado, ao qual se junta a seguinte inscrição em latim:
R. DOMINUS GARCIA REX PORTUGALLIAE ET GALLECIAE. FILIUS REGIS MAGNI FERDINANDI. HIC INGENIO CAPTUS A FRATRE SUO IN VINCULIS. OBIIT ERA MCXXVIII XIº KAL. APRIL.
Cujos dizeres podem ser traduzidos para o Português moderno da seguinte forma: Aqui jaz o rei Garcia de Portugal e Galiza, filho do grande rei Fernando, que foi capturado pelo seu irmão com engano. Morreu preso a 22 de Março de 1090.
Porém, a saga dos dois irmãos do Rei Garcia não se ficou por aqui e no ano seguinte, Sancho II expulsou Afonso VI, juntando os três reinos – Castela, Leão e Galiza e Portugal. Sancho II acabou assassinado e Afonso VI tomou a coroa de Leão, a qual abrangia os três reinos.
A História prossegue a sua marcha imparável e foi necessário esperar cerca de setenta anos para que Portugal se tornasse um reino independente. Importa ressaltar que o prestigioso historiador português José Hermano Saraiva já tinha sugerido, num dos seus programas de História de Portugal na RTP, que D. Garcia II poderia ser considerado com o verdadeiro primeiro Rei de Portugal.
Quem era Nuno Mendes, o último Conde de Portucale?
Nuno Mendes (? — Fevereiro de 1071) foi o derradeiro conde de Portucale descendente da família de Vímara Peres. Filho do conde Mendo Nunes, a quem sucedeu por volta de 1050. Padroeiro do Mosteiro de Guimarães, aparece pela primeira vez na cúria régia do rei Fernando I em 1059, e com o título do conde em 1070 quando confirmou uma doação do rei Garcia.
As suas aspirações a uma maior autonomia dos portucalenses face ao reino da Galiza levaram-no a enfrentar o rei Garcia I da Galiza e a reclamar a independência e o título de Portugal em 1070. Em 18 de Fevereiro de 1071 trava-se a batalha de Pedroso, junto do Mosteiro de Tibães a qual teve como desfecho final a sua derrota – e morte, travando assim as ambições dos barões portucalenses. A notícia desta batalha é mencionada nos Anais Velhos de Portugal:
“Na Era de 1109, no mês de Fevereiro, os Portucalenses travaram uma batalha contra o rei D. Garcia, filho do rei D. Fernando. O seu chefe nessa batalha era o conde Nuno Mendes. Morreu nela e todos os seus fugiram. O rei teve vitória sobre eles no lugar chamado Pedroso, entre Braga e o rio Cávado.”
Sabe-se que possuía bens em Nogueira, Santa Tecla, Dadim, Cerqueda, Gualtar e Barros (Braga), que lhe foram confiscados por ocasião da sua derrota, e uma parte dos bens foram dados depois por Afonso VI de Leão à filha do conde Nuno, Loba, e a seu genro, o alvasil Sisnando Davides. Terá ainda fundado o mosteiro de Caramos onde hoje se encontra edificada a Igreja Conventual de Caramos.
O seu inimigo rei Garcia não teria melhor sorte, pois no ano seguinte seria preso pelo irmão Afonso VI de Leão, assim vivendo até falecer em 1090; em 1094, o condado de Portucale seria restaurado na pessoa de Henrique de Borgonha, conde de Portucale.
Convém haver mais rigor nos textos e datas. O Garcia no vosso texto lutou em 1109 creio, e morreu em 1090, antes portanto . Além do mais, a data em numeração romana não tem nada a ver com a data traduzida à frente. Essa data deve ser 11 de abril de 1128 e não 22 de março de 1090.