A língua portuguesa está em constante transformação. Palavras nascem, evoluem, desaparecem. Algumas ficam esquecidas nas páginas de livros antigos ou nas memórias dos mais velhos. Outras resistem aqui e ali, como relíquias de um tempo em que o falar era diferente — mais demorado, talvez mais expressivo.
Este pequeno inventário reúne catorze palavras antigas que, apesar de caírem em desuso, continuam a transportar consigo significados ricos e expressivos. Termos que merecem, pelo menos, ser lembrados.
1. Desenxabido
Descreve algo sem graça, sem sabor ou sem vida. Tanto pode aplicar-se a um prato mal temperado como a uma conversa sem sal.
Exemplo: O jantar estava desenxabido e a companhia não ajudou.
2. Escanifobético
Refere-se a alguém excessivamente magro, quase de aparência frágil ou doentia. Tem um tom algo caricatural.
Exemplo: Depois da doença, ficou escanifobético, irreconhecível.
3. Trasfegar
Verbo técnico usado na vinicultura, que significa passar vinho de um recipiente para outro, normalmente para clarificar ou envelhecer.
Exemplo: Trasfegar o vinho é uma arte que exige paciência e mão firme.
4. Açafate
Cesto tradicional, geralmente de vime, usado para transportar bens em mercados ou feiras. Evoca imagens do Portugal rural.
Exemplo: A peixeira equilibrava o açafate à cabeça com uma destreza admirável.
5. Desopilar
Significa aliviar tensões, rir, distrair-se. Uma palavra leve, como a sensação que descreve.
Exemplo: Uma conversa com amigos chega sempre para desopilar.
6. Lambisgóia
Termo depreciativo que designa uma pessoa bisbilhoteira, intrometida e, por vezes, maledicente.
Exemplo: A lambisgóia da vila sabia sempre das novidades antes de toda a gente.
7. Pachorrento
Alguém calmo, talvez demasiado. Pode ser dito com admiração ou com impaciência, consoante o tom.
Exemplo: Era tão pachorrento que demorava horas a contar uma história.
8. Quiproquó
Confusão ou mal-entendido, normalmente de forma cómica ou embaraçosa.
Exemplo: O quiproquó entre os convidados quase estragava o jantar.
9. Convescote
Uma refeição ao ar livre, entre amigos ou família. Piquenique com nome mais nobre.
Exemplo: Aproveitámos o bom tempo para um convescote no parque.
10. Engodar
Atrair alguém com falsas promessas. Termo muitas vezes associado à astúcia e à ilusão.
Exemplo: Tentaram engodar os investidores com lucros fáceis.
11. Gorjeio
O canto suave dos pássaros. Palavra sonora que quase imita aquilo que descreve.
Exemplo: O gorjeio matinal era o único som no campo.
12. Hodierno
Adjetivo que significa “do dia de hoje”, “atual”. De uso raro, sobretudo em contextos mais formais ou literários.
Exemplo: Os desafios hodiernos exigem novas formas de pensar.
13. Ínvio
Descreve algo intransitável ou de difícil acesso, como um trilho escondido.
Exemplo: O caminho ínvio levava a um miradouro esquecido.
14. Jaez
Refere-se ao carácter ou tipo de algo, usado sobretudo para descrever obras ou comportamentos.
Exemplo: Textos de tal jaez são hoje difíceis de encontrar.
Estas palavras não desapareceram completamente – continuam acessíveis a quem folheia dicionários antigos, lê autores clássicos ou ouve as histórias dos avós. Recuperá-las é, de certo modo, resgatar uma parte da identidade linguística portuguesa.
Quem sabe se, ao usá-las novamente, não damos novo fôlego a estas vozes adormecidas da nossa língua?