Uma verdadeira cidade subterrânea, formada por túneis e grandes galerias, a partir do Castelo da Pena e construídos pelos Mouros e pelos Templários há cerca de oito séculos, faz com que a Serra de Sintra se pareça mais com um enorme queijo “Gruyère” do que com uma montanha a quem já Ptolomeu apelidava de Montanha da Lua, nome aliás repetido por Camões quando a ela se refere, em verso, nos “Lusíadas”.

Em tempos ainda mais remotos Festo Avieno chamou-lhe Ofiusa, palavra de origem grega significando “terra da serpente”. Serpentes seriam, segundo vários autores mais dados à História superficial, os ídolos das tribos indígenas mas não se pode olvidar o facto de os Iniciados em determinada Via do Conhecimento serem conhecidos por idêntico nome.

Por seu lado o cruzado Osborne, um dos voluntários estrangeiros na conquista de Lisboa aos Mouros por D. Afonso Henriques referiu, nas suas crónicas, que se tratava de uma região tão enigmática ao ponto das éguas ficarem prenhas apenas devido ao vento…

A existência dos túneis da Serra da Lua, existência esta igualmente garantida por documentos antigos, só que de impossível demonstração pois essas galerias encontram-se obstruídas, nas suas entradas, por grandes porções de terra e entulho de vária ordem, embora notando-se perfeitamente os vários tipos de acesso.

O Castelo dos Mouros é a entrada para um dos subterrâneos da Serra Sagrada de Sintra, junto das entradas de diversos túneis, parte deles escavados nas rochas têm subterrâneos. Um deles vai ligar ao Convento dos Capuchos, que fica a oito quilómetros daqui, e um outro desemboca perto da povoação de Rio de Mouro, mesmo junto ao ribeiro que passa naquela povoação.

Outras galerias, afirmam texto vetustos, descem pelo interior da montanha até ao Palácio da Vila, edificação mais moderna mas não menos enigmática em certos aspectos da sua arquitectura, para já não falar no Palácio da Pena, mandado edificar por D. Fernando II, verdadeira jóia de simbologia oculta, igualmente provida de longos subterrâneos que ninguém sabe onde levam…
Evidências históricas da existência dos túneis
O Visconde de Juromenha, na página 134 da sua Cintra Pinturesca, Lisboa, 1838, após pegar na tradição oral correndo na terra, escreveu sobre o assunto indicando a passagem subterrânea no Castelo dos Mouros:
«Indo para a primeira torre se encontrava uma tulha que tinha cinco palmos e meio de diâmetro, por onde dizem que havia uma estrada encoberta que ia até Rio de Mouro, e que dela se denominara o dito Rio, e para a parte direita se divisava o sinal de uma porta por onde dizem era a dita entrada.»
Conhecedor dessa tradição mais oral que escrita e decerto suspeitando não haver fumaça sem fogo, em 1970-72 o espeleólogo Augusto Morgado investigou e descobriu a dita passagem subterrânea do castelo, notícia que publicou no jornal Época, 12 de Agosto de 1972.
Ao mesmo tempo é descrita a passagem subterrânea que liga o espaço actual da cave do Café Paris ao Palácio da Vila e que sobe subterraneamente até ao Castelo, facto já conhecido dos Templários que estiveram acantonados no lugar das Murtas e foram os primeiros a restaurar esse primitivo Palácio árabe, dando-lhe feição ocidental, românica originalmente (século XII), e depois gótica já pela mão da Ordem de Cristo (século XIV).
Exemplo de hipógeo com fim ritualístico será também o conjunto de galerias subterrâneas ocultadas nas traseiras do edifício oitocentista do Café da Avozinha defronte para o Palácio, antigo Paço Real.
«A pouca distância deste Mosteiro (dos Jerónimos da Penha Longa) está uma gruta de cristalização que antigamente foi fechada, e que foi descoberta segundo me afirmou (por constar de memórias antigas) por um Monge deste Convento no reinado d’El-Rei D. João 3.º.
Desce-se para esta gruta por uma porta (que noutro tempo serviu para a guardar) que está a sete ou oito pés de altura, com ajuda de uma escada de mão: logo em baixo há um pequeno largo, donde segue uma mina pela terra dentro, pela qual é necessário, em parte ir de rastos e vai terminar em outro pequeno vão.
Pela porta superior há uma fenda por onde o sol, penetrando os seus raios com um efeito maravilhoso, torna fulgente esta casa cristalina. As águas que lhe entram julgo terem formado para o lado esquerdo, onde parte um ramo da gruta, e onde parece mais escavada algum depósito, porque os vizinhos têm por costume avisarem aos curiosos de evitarem um poço, que asseveram existir naquela mina.»