Costuma dizer-se que não há amor como o de Pedro e Inês de Castro. A história, uma das mais trágicas da História de Portugal, inspirou gerações e gerações de artistas, como Luís de Camões ou Bocage. Até Columbano Bordalo Pinheiro deixou por momentos os seus retratos burgueses para pintar Inês pedindo pela vida dos seus filhos. Porém, nem tudo na tragédia de Pedro e Inês se passou como é relatado.
Quando D. Afonso IV morreu, D. Pedro I tomou em mãos a tarefa de vingar Inês de Castro. Mandou perseguir e matar os assassinos de sua a amada e não descansou enquanto não colocou a nobre galega no lugar que era seu de direito — no trono de Portugal. Literalmente.

Diz a história que, pouco tempo após ter sido coroado rei, em 1357, D. Pedro convocou toda a nobreza portuguesa ao Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, onde Inês tinha sido sepultada. Depois, mandou desenterrar a amada e colocá-la num trono, vestida com roupas ricamente decoradas e com uma coroa de ouro na cabeça. Como se de uma verdadeira cerimónia de coração se tratasse, obrigou todos os fidalgos a beijarem a mão direita de Inês, coberta por uma luva, em sua homenagem.
No final cerimónia, os restos mortais de Inês de Castro foram transladados para o Mosteiro de Alcobaça, onde, mais de 600 anos depois, ainda jazem junto aos de Pedro.

Apesar de famosa, a história do beija-mão e da coroação do cadáver de Inês de Castro não passa de um mito. De acordo com o historiador Ricardo Raimundo, “não existe nenhum documento que a comprove ou sequer indicie que possa ter acontecido”.
Além disso, “sabe-se hoje que os Reis portugueses do século XIV não eram coroados nem usavam ou possuíam coroa.” Então, de onde é que surgiu?

Ao que tudo indica, o episódio terá sido inventado pelo castelhano Frei Jerónimo Bermudez que, em meados do século XVI, publicou do outro lado da fronteira a obra Nise Laureada (1557), sobre a sede de vingança de D. Pedro. O frei terá sido inspirado pela Castro, uma tragédia do português António Ferreira que deu a conhecer o amor trágico de Pedro e Inês (mas sem os pormenores mórbidos).
O episódio relatado por Bermundez chegou a Portugal mais tarde, graças ao escritor luso-filipista Manuel de Faria e Sousa. A partir daí, começou a figurar em toda e qualquer literatura relativa aos amores de Pedro e Inês — histórica, dramática e de cordel –, como se de uma verdadeira história se tratasse.
Porque razão foi morta Inês de Castro?
O rei D. Afonso IV rodeado dos seus conselheiros, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, deslocaram-se ao Mosteiro de Santa Clara para assassinar D. Inês. Afonso IV tentou por diversas vezes organizar um terceiro casamento para o seu filho, com princesa de sangue real, mas Pedro recusa tomar outra mulher que não Inês.
Entretanto, o único filho legítimo de Pedro, o futuro rei Fernando I de Portugal, mostrava-se uma criança frágil, enquanto que os bastardos de Inês prometiam chegar à idade adulta. A nobreza portuguesa começava a inquietar-se com a crescente influência castelhana sobre o futuro rei.