No século XIX, criou-se genuinamente na sociedade portuguesa a ideia de reerguer a pátria e a Conferência de Berlim de 1884/5 (onde as grandes potências europeias dividiram a esfera de influência no continente negro) tornou ainda mais urgente essa tarefa.

Perante a cobiça dos nossos territórios, lançou-se uma autêntica corrida ao povoamento para o sertão africano, ficando célebres as campanhas de exploradores como Roberto Ivens, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, etc (os seus nomes estão todos nas Ruas do Chiado). Esta quimera caiu por terra com o Mapa Cor- de-Rosa e o Ultimato de 1890, contribuindo para a queda da Monarquia.

Esta corrida africana deu um novo alento ao mito Sebastiânico do V Império – de que Fernando Pessoa viria a ser ma o mais ilustre intérprete – buscando inspiração no período mais glorioso da História de Portugal : o reinado do “Venturoso”.

A Estação do Rossio reúne todos estes elementos. Em estilo Neo-Manuelino, não faltam as cordas dos navios e as esferas armilares, tem omnipresente o mito Sebastiânico e a Ideia do V Império.

Provavelmente passa despercebido, mas as portas da Estação estão desenhadas em forma de ferradura, aludindo ao cavalo Branco de D. Sebastião a galope do qual ele regressará numa manhã de nevoeiro para reinar sobre todos nós e devolver à Pátria a grandeza pretérita.
Entre as portas encontra-se uma estátua com o próprio D. Sebastião, segurando um escudo com 7 castelos, mas cujas mãos ocultam dois deles. Será mais uma referência ao V Império? Vítor Manuel Adrião na sua obra “Lisboa Insólita e Secreta” acredita de sim.

Na fachada da estação terminal do Rossio vêem-se duas arcadas cruzando-se à altura do nicho contendo a estátua de D. Sebastião, em tamanho natural, em atitude de defesa, a espada adiante do escudo inclinado 17 graus para a esquerda do possuidor.
Seguindo um certo sentido, as arcadas sugerem as ferraduras do cavalo branco do Encoberto que não é o jovem sonhador de de- lírios funestos el-rei D. Sebastião, mas antes este o emblemático régio de um outro Rei muito maior que há-de vir, quiçá o próprio retorno do Cristo em Aquarius?
Sebastião em hebraico é Sbhs ou “Serpente”, é o Grande Dragão da Sabedoria, e não foi por acaso que foi o santo mais querido dos Templários, assim como Santo André o Arquitecto, um outro dos padroeiros de Lisboa.

Como Deus escreve direito por linhas tortas quis o destino que esta estação ligasse a capital do Império (Lisboa) à capital do Romantismo em Portugal (Sintra).
Já dizia Fernando Pessoa que o V Império seria um império espiritual, de poetas, e que nasceria um novo Camões para o imortalizar (Pessoa não duvidava que seria ele próprio).

Não podia ser essa a intenção de José Luís Monteiro, arquitecto que a projectou para ser a estação central de Lisboa ainda no século XIX, porque esta rota é já da década de 80 do século passado (a linha de Sintra tinha o seu terminal em Alcântara Terra), mas não deixa de ser mais um sinal do Destino Manifesto que Lima de Freitas ilustra nos seus painéis nesta mesma gare. Outra curiosidade: foi em Sintra que D. Sebastião presidiu à última audiência do seu reinado…
Este é o maior desafio Português, o contraste em cada época entre o povo amorfo e o génio