Logo no início da nossa alfabetização somos apresentados ao alfabeto e, na maioria das vezes, começamos a desvendar o universo da leitura e da escrita a partir do estudo das vogais e, posteriormente, partimos para o estudo das consoantes. Aprendemos que o abecedário é oficialmente composto por 26 letras (em 2009, as letras K, W e Y foram definitivamente incorporadas ao alfabeto da língua portuguesa), assim como aprendemos que nem sempre existe uma grande diferença fonética entre determinadas letras…
Quem nunca se perguntou se determinado vocábulo é escrito com ss, s ou ç? Quem nunca se perguntou, também, por que o c com cedilha não consta no alfabeto?
Embora tenha uma resposta simples na superfície, acaba por mexer com questões complicadas. O cê acompanhado da cedilha não é uma letra, mas a junção da letra c com o sinal diacrítico (distintivo) cedilha.
O ç não aparece no alfabeto pela mesma razão que lá não está o ã. Os sinais diacríticos do português são a cedilha, os acentos gráficos, o til e, até pouco tempo atrás, o hoje extinto trema.
O papel dos sinais diacríticos é alterar a pronúncia normalmente atribuída às letras, dando-lhes novo valor fonético. Isso ocorre porque não é perfeita a correspondência entre os fonemas (sons da língua oral) e as letras que usamos para codificá-los por escrito.
As vogais, por exemplo, são sete no mundo dos sons e apenas cinco no das letras (e e o correspondem cada um a dois fonemas, um aberto e um fechado).
Curiosamente, o espanhol, língua que inventou a cedilha no século 11, não a usa mais: a palavra vem provavelmente de zedilla, diminutivo de zê. A cedilha era um z pequeno – e foi mesmo pelo z que o idioma de Cervantes acabou por substituir o ç, cabendo ao português e ao francês garantir sua sobrevivência.
Até o século 15 ou 16, era comum na nossa língua o uso de ç em início de palavras: “sapato sujo” aparecia frequentemente como çapato çujo!
É interessante observar que a subtil distinção fonética que motivou a adopção do ç no português antigo, para diferenciá-lo do s e do ss, ficou na poeira da história.
“Qualquer que fosse a causa da primitiva distinção entre as referidas letras”, escreve o gramático Said Ali, “certo é que s ou ss (entre vogais), ç ou c (antes de e ou i) representam, em português moderno, um só fonema, a sibilante surda”.
1. A cedilha é uma letra?
Não, a cedilha não é uma letra e, por não ser uma letra, não consta no alfabeto oficial.
2. Afinal, o que é a cedilha?
A cedilha é um sinal diacrítico. Calma, a palavra é complicada, mas o significado não é. Um sinal diacrítico serve para diferenciar letras ou palavras, ou seja, nesse caso, quando a letra c recebe a cedilha, ela deixará de ser lida como /c/ para ser lida com o som de /s/. Portanto, o ç nada mais é do que uma representação fonética.
3. De onde veio a cedilha?
A cedilha surgiu no idioma castelhano no século XI a partir da aplicação do sufixo diminutivo -illa (em português -ilha) ao nome da letra z, portanto, zedilla. Essa zedilla era colocada sob a letra c para representar o som de /s/. Curiosamente, a zedilla não é mais utilizada no castelhano e no espanhol, apenas no português, francês e catalão.
4. Por que o c com cedilha não aparece no início de nenhuma palavra?
Até o século XV ou XVI era comum o uso do c com cedilha no início de palavras, contudo, convencionou-se que nenhuma palavra da língua portuguesa deveria ser iniciada com a cedilha, até porque ela não é letra, mas sim um sinal diacrítico.