Quem disse que falar português correctamente era fácil? A Língua Portuguesa pode ser muito traiçoeira e repleta de pequenos pormenores que nos fazem cometer erros, mesmo que involuntários. Um dos erros mais frequentes da Língua Portuguesa é a confusão entre os advérbios “onde” e “aonde”.
Para começar, importa referir que ambas as palavras estão correctas. Mas afinal, quando se deve utilizar cada uma delas?
O advérbio é uma classe de palavras cuja função gramatical é acompanhar e modificar um verbo, exprimindo a circunstância da acção verbal, por isso o nome advérbio, ou seja, a palavra que está próxima ao verbo.
Onde: O advérbio onde indica o lugar em que algo ou alguém está e deve ser utilizado para expressar ideia de lugar. Num texto, e até mesmo na linguagem oral, para evitar a repetição desse vocábulo, podemos utilizar outras expressões que conferem a mesma significação, como no qual, na qual, em que.
Aonde: Assim como o advérbio onde, também é usado para indicar lugar em que algo ou alguém está, contudo, deve-se observar se o verbo com o qual ele se relaciona exige a preposição “a”.
Caso haja a necessidade da preposição, ela deve ser agregada à palavra onde para formar o vocábulo aonde. O advérbio aonde transmite a ideia de lugar para o qual se vai, ou seja, destino ou movimento.
Onde = em que lugar
Onde indica permanência, não sugerindo movimento. Indica o lugar em que alguém ou alguma coisa está, o lugar em que está a acontecer alguma coisa. Deverá acompanhar verbos que também indiquem permanência, como estar, ficar, encontrar, morar, ser, etc..
Exemplos:
- Onde mora ele?
- Onde está o vestido que te dei?
- Você sabe onde fica o supermercado?
- A chave está onde você a deixou.
Onde pode ser substituído por:
- em que lugar;
- em qual lugar;
- em que parte;
- no lugar em que;
Aonde = para que lugar
Aonde indica movimento, sugerindo a ideia de um destino. Refere-se ao lugar para onde alguém ou alguma coisa vai. Deverá acompanhar verbos que também indiquem movimentação, como ir, voltar, chegar, dirigir, etc…
Exemplos:
- Aonde ele foi?
- Aonde você vai usando essa roupa?
- Você sabe aonde eles foram ontem depois do jantar?
- Ainda não sei aonde iremos.
- Aonde quer que eu vá, sentirei a sua falta!
Aonde pode ser substituído por:
- para onde;
- para que lugar;
- a que lugar;
Em Portugal, o advérbio ‘aonde’ já é pouco usado, quer na fala, quer, pelo menos, na escrita literária, com propensão a extinguir-se. José Cardoso Pires no seu romance ‘O Delfim’, em 51.425 palavras, não o usa e é substituído por ‘onde’, que é usado 73 vezes na obra. A locução adverbial ‘para onde’ é usada 6 vezes nesse romance, mas com um sentido de durabilidade que ‘aonde’ não tem e , por isso, não podem substituir-se entre si. No romance ‘A Sibila’ de Agustina Bessa-Luís, conhecida também por ser uma cultora da Língua, nas 87.620 palavras do romance, usa uma vez o advérbio ‘aonde’, 189 vezes ‘onde’ e nenhuma vez ‘para onde’. Poderia citar mais obras e escritores portugueses, mas seria mais do mesmo. Embora gramaticalmente correcto no seu uso próprio, o advérbio ‘aonde’ não tardará muito em ser uma palavra arcaica, uma curiosidade gramatical, estando este meu ‘ não tardará muito’ relacionado com o tempo muito mais lento da entrada em desuso das palavras numa língua, se o compararmos com o da nossa vida.
Gostei, maravilhosa ferramenta.