O primeiro foi Salvador Ribeiro de Sousa, que nasceu em Ronfe, Guimarães, no século XVI. Foi um militar, Comendador da Ordem de Cristo, eleito Rei pelo povo do Reino do Pegu e sendo chamado na Birmânia pelo nome de Massinga. Conforme assinala Benjamim Videira Pires:
“Como o único herdeiro do verdadeiro rei do Pegu fora morto pelo rei de Tungu, seu cunhado, os peguanos, atendendo às grandes vitórias de Ribeiro, que reputavam invencível, reuniram-se e aclamaram-no rei de Massinga do Pegu.”
Pouco depois, chegava da Índia Filipe Brito Nicote, nomeado pelo vice-rei capitão-geral daquelas conquistas. Modesto como sempre foi, Salvador Ribeiro de Sousa entregou-lhe o reino e, meses depois, regressou a Portugal na primeira nau que ali aportou.
Filipe de Brito e Nicote nasceu em Lisboa cerca de 1566 e morreu em 1613 na Birmânia, onde foi rei cerca do ano de 1600 com o nome de Nga Zingar.
O terceiro português que se tornou rei da Birmânia foi Sebastião Gonçalves Tibau, natural de Santo António do Tojal e filho de pais humildes. Sebastião Gonçalves Tibau fundou ainda na ilha de Sandwip uma república de piratas, cerca de 3 mil, da qual ainda hoje existem descendentes.
A fantástica odisseia de Filipe de Brito
Muito jovem foi enviado para a Índia para “alcançar honra e fazenda”, como era tradição com a baixa nobreza. Andou pelas negociatas do carvão e do sal até que colocou os seus dotes militares e guerreiros (também sinónimo de mercenário) ao serviço do rei de Arakan, uma área no nordeste de Myanmar, ainda hoje conhecida como estado de Arakan ou Rakhine.
Grato pela ajuda na conquista da cidade de Pegu, no sul, o rei de Aragan deu-lhe o controlo do porto de Syriam (ou Sirião, em bom português) na margem do rio Pegu, no lado oposto do que é hoje Yangon. Brito não se deixou ficar. Mal conseguiu permissão para estabelecer uma alfândega na boca do rio Pegu, logo começou a erguer uma fortaleza.
E assim nasceu a ideia de tornar a zona parte da coroa portuguesa, recebida com agradado pelo rei Filipe II de Portugal. Filipe de Brito recebeu o título de fidalgo e a Ordem de Cristo e tornou-se “rei” de Pegu. Corria o ano de 1602. O rei de Arakan andava há muito desconfiado das intenções do português e enviou 6,000 homens para uma visitinha de “cortesia”. Correu mal. Depois mandou uns 40,000, mas voltou a ser derrotado.
Pegu tornou-se pequena demais para tal espírito expansionista. Filipe de Brito quis transformar a alfândega num porto de paragem obrigatória da navegação entre a Índia e Malaca. E pelo meio ainda se meteu em novas guerras com o rei de Arakan.
Conta a história que, cercado na fortaleza e com os seus homens a passar fome, Filipe de Brito terá preparado um festim com os alimentos que restavam.
Os prisioneiros de guerra, que propositadamente assistiram à festa, foram depois enviados ao acampamento das tropas do rei de Arakan com as sobras de comida para que as senhoras do acampamento estejam “muito gordas e formosas” quando Filipe de Brito as capturar, segundo o recado transmitido. Parece que parte das tropas aliadas desertou na hora com medo do resistente português.
Entre traições, invasões e guerras, Filipe de Brito não terá feito muitos amigos. Quando prendeu e roubou todo o ouro a um rei da vizinhança com quem tinha estabelecido uma aliança, semeou a vingança nos restantes líderes da região, ditando o início do fim do ‘rei’ de Pegu. Foi derrotado e capturado por um dos vizinhos, o rei de Ava.
Não terá ajudado o facto dos seus submissos não lhe terem perdoado as atrocidades cometidas contra a população local, a destruição e o saque de pagodes, conversões forçadas ao cristianismo e assassinatos a torto e a direito. Resultado: em 1613, Filipe de Brito, ‘rei’ de Pegu foi empalado. A aversão ao português era tal que um dos príncipes aliados foi ordenado a matar o seu próprio genro, o filho de Filipe de Brito. Para eliminar por completo os Britos da face da terra (birmanesa).