O Rei D. Sebastião pode ter sido vítima de pedofilia quando tinha 9 anos. Esta tese é sustentada por Harold Johnson, historiador da Universidade da Virgínia e autor da investigação Um pedófilo no palácio: ou o abuso sexual de El-Rei D. Sebastião de Portugal, publicada no livro Dois Estudos Polémicos. Neto do Rei D. João III, D. Sebastião cresceu sem pais: a mãe teve de o deixar aos 3 meses para ir para Castela, a mando do irmão, Filipe II; o pai morreu 18 dias antes de ele nascer.
O tio-avô, cardeal D. Henrique, inquisidor-geral do reino, escolheu para tutor do futuro Rei o padre jesuíta Luís Gonçalves da Câmara, descrito pelos cronistas como “gago”, “feio” e “cego de um olho”.

D. Sebastião contraiu gonorreia antes dos 10 anos, altura em que passou a expelir regularmente fluidos seminais (poderiam ser confundidos com as ejaculações nocturnas, mas era demasiado novo). O facto de se tratar de uma doença sexualmente transmissível leva o historiador Harold Johnson a apontar vários indícios de que o Monarca sofreu abusos sexuais do sacerdote.
A cegueira, de que Luís Gonçalves da Câmara padecia, é uma das consequências possíveis da gonorreia. Um aio do Rei avisou, por carta, a avó de D. Sebastião (a Rainha D. Catarina de Áustria) de que o padre jesuíta já conhecia a “natureza” do rapaz e de que rapidamente passaria a controlar a sua mente, uma escolha de palavras que deixa subentendido que já teria abusado do Rei. Em 1566, a Rainha Catarina afastou o jesuíta da corte, o que é mais um indício de que suspeitava da relação do padre com o neto.
A “luta” com um escravo negro
Esta tese tem sido praticamente ignorada pelos biógrafos de D. Sebastião em Portugal, o que o investigador americano justifica com a repressão salazarista e também por ser politicamente incorrecta. Durante a juventude, D. Sebastião evitou sempre contactos com mulheres e fugiu a qualquer ideia de casamento. Mas manteve vários encontros com homens, relatam os cronistas da época, citados por Fernando Bruquetas de Castro, no livro Reis que Amaram como Rainhas.
À noite, ia procurar parceiros numa mata em Sintra ou junto ao Tejo na margem sul, para onde se deslocava de barco com o seu pajem. E foi surpreendido uma vez por populares num bosque em Almeirim, abraçado a um escravo negro que tinha fugido do seu patrão – para se justificar, o Rei contou-lhes que pensava tratar-se de um javali e só descobriu que era uma pessoa quando estavam a “lutar”.
4 falhas no horóscopo traçado à nascença
As previsões do médico castelhano Fernão Maldonado viriam a ser desmentidas:
• Digo que este nascido será muito dado a seus prazeres com as mulheres
• Vai casar na sua mocidade e a sua mulher será boa e honesta
• Terá grande inclinação para as coisas venéreas, mas dentro de um casamento legítimo
• Terá filhos que serão nobres, formosos e bem-afortunados
Quem era o Rei D. Sebastião?
Começou a governar em 1557 e terminou em 1578 Quando Dom João III morreu, em 1557, já todos os seus nove filhos já haviam falecido. Como herdeiro directo restava apenas um neto, Dom Sebastião, que tinha nessa altura apenas três anos de idade. Foi nomeado um regente até que o jovem rei tivesse idade para governar.
Quando fez quatorze anos, Dom Sebastião tomou conta do governo. Sendo, além de jovem, muito religioso e influenciável, o seu modelo eram os antigos heróis e o seu sonho as grandes batalhas de combate aos infiéis. Daí que o seu principal projecto fosse conquistar Marrocos aos muçulmanos.

Não era, aliás, o único a defender esta ideia. Desde que a Índia começara a dar mais prejuízos que lucros, muita gente estava de acordo em que era preferível conquistar o Norte de África – zona rica em cereais e comércio – do que continuar a manter com grandes sacrifícios o Império do Oriente.
Com o que quase ninguém esteve de acordo – sobretudo as pessoas mais prudentes – foi com a maneira como D. Sebastião preparou e dirigiu a sua expedição ao Norte de África. Em 1578, tinha então vinte e quatro anos, partiu para Marrocos com um exército de dezassete mil homens, dos quais cerca de um terço eram mercenários estrangeiros.

Embora os militares mais experimentados na guerra o aconselhassem a não se afastar da costa de onde lhe poderia vir auxílio dos navios portugueses, o rei preferiu avançar para o interior com as suas tropas.
Encontrou o exército muçulmano em Alcácer Quibir e aí se travou a célebre e infeliz batalha em que foram mortos ou feitos prisioneiros praticamente todos os portugueses que nela participaram.
O rei também morreu na batalha, mas nenhum dos portugueses que regressaram disse que viu o seu corpo. A chegada da notícia desse desastre a Lisboa provocou cenas de perturbação e dor indescritíveis.