As primeiras moedas portuguesas terão sido mandadas cunhar ainda por D. Afonso Henriques. Eram pequenos exemplares metálicos produzidos a partir de uma liga de cobre e prata e que exibiam a cruz de Cristo. Foi durante o reinado de D. Sancho I que apareceu a primeira moeda portuguesa de ouro, o morabitino, que valia 180 dinheiros. O dinheiro, enquanto unidade monetária, desaparece no final da primeira dinastia e é substituído pelo real. O primeiro rei da Segunda dinastia, D. João I, manda cunhar as primeiras moedas portuguesas de cobre, os reais pretos.
É durante a governação filipina e a restauração que à cunhagem da moeda por martelo se substituem os métodos mecânicos e que surge a primeira forma de papel moeda, durante o reinado de D.Pedro II. A Casa da Moeda passava um recibo a todos os que lhe entregassem moedas de ouro e prata que tivessem sido cerceadas, ou seja, limadas e diminuídas da sua quantidade de metal precioso e, consequentemente, de valor afectivo.
Em 1821 é criado o primeiro banco emissor no Continente, Banco de Lisboa, antecessor do Banco de Portugal que passa a emitir notas regularmente. O Banco de Portugal surge em 1846 e, em 1887, torna-se no único Banco emissor.
Com a implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, o sistema monetário é alterado e o real substituído pelo escudo. Todavia, as primeiras notas de escudo só começam a circular em 1914.
Com a entrada do Euro no nosso quotidiano já à vista, o escudo está em contagem decrescente. A nova moeda começa a circular em todos os países da União Europeia, incluído Portugal.
NOTA IMPORTANTE: muitas destas moedas existiram simultaneamente, ou seja, o facto de uma nova moeda começar a ser produzida não significava que a moeda anterior saísse de circulação. Outras moedas introduzidas eram apenas múltiplos das já existentes (exemplo: 1 Coroa correspondia a 1000 Reis). Estes 2 pormenores são importantes para perceber as datas da cronologia das moedas em Portugal já que essas datas sobrepõem-se precisamente porque existiam várias moedas diferentes em circulação.
1. Dinheiro
A independência de Portugal foi proclamada por D. Afonso Henriques após a Batalha de Ourique em 25 de Julho 1139, reconhecido como rei Alfonso I (1128-1185) pelo rei de Leão e Castela Afonso VII em 1143, e pelo Papa Alexandre III em 1179.
Em 1179 o rei adoptou o Dinheiro como moeda de Portugal, usada até 1433. O anverso da moeda tinha uma grande cruz, como de costume nas moedas medievais. Seu reverso tinha cinco escudos dispostas para formar uma cruz, cada um deles com cinco pontos, em memória dos cinco Reis mouros vencidos por Alfonso I na batalha de Ourique. Os escudos está actualmente em armas nacionais de Portugal.
Quanto às unidades de contagem, 12 dinheiros igualou um soldo e 20 soldos são iguais a uma libra: a denominação de meio Dinheiro foi chamado Mealha. Novas moedas introduzidas nos séculos seguintes foram o morabitino ouro, introduzido por Sancho I (1185-1211) a partir do Maravedí espanhol e equivalente a 15 soldos, e os Tornes prata, introduzido pelo Rei Denis, um século depois que vale 5 ½ soldos.
2. Morabitino
O Morabitino é considerada a primeira moeda de ouro cunhada pela coroa portuguesa. A sua cunhagem iniciou-se com D. Sancho I (1185-1211) e terminou no reinado de D. Sancho II (1223-1248). A palavra Morabitino tem o significado de “dos Almorávidas”. Indica que tem o estilo e a presumível métrica dos dinares que então corriam, imitados por governantes muçulmanos e também cristãos, na sequência do verdadeiro Dinar ou Morabitino da dinastia Almorávida, que terminou em 1147.
No Morabitino de D. Sancho I figura, no anverso, o rei a cavalo e de espada na mão e no reverso, a simbologia do reino das quinas. As primeiras cunhagens terão sido feitas logo após a subida do monarca ao trono de Portugal, em 1185. Terá sido batido em grande quantidade pois chegaram vários exemplares até aos dias de hoje. A moeda serviu de modelo a diversas moedas feudais europeias que, principalmente em França, se cunharam nos séculos XIII e XIV com o tipo de “cavaleiro armado”.
O reinado de D. Sancho I terminou em 1211 mas os Morabitinos foram ainda cunhados por mais monarcas: o de D. Afonso II e o D. Sancho II. Segundo numismatas “nos últimos cento e cinquenta anos têm sido usados, nos catálogos elaborados, os pesos, os módulos e as legendas para uma hipotética diferenciação dos Morabitinos de D. Sancho I, que de facto existe. Mas quando se avança no número de espécies observadas, começam a aparecer moedas de cunhos iguais com diferentes pesos e módulos, e torna-se evidente que os dois primeiros elementos não servem. Já não é hipótese, mas sim certeza, o verificarmos ter sido a totalidade dos Morabitinos de D. Sancho I emitida apenas com as legendas SANCIVS REX PORTVGALIS e SANCIVS EX RTVGALIS”.
4. O Cruzado de ouro
Cruzado de ouro cunhado no reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521). A primeira moeda desse nome foi cunhada por Afonso V de Portugal em 1457, assim chamada por apresentar uma cruz simples no seu reverso. Em ouro, com o peso de 989 milésimas, visava concorrer com os procurados ducados italianos, imprimindo-lhes maior toque. A cruz no reverso era parte da resposta do soberano ao apelo do Papa Calixto III naquele ano, para integrar a cruzada contra o Império Otomano e libertar Constantinopla. A morte do Papa, em 1458, levou ao abandono do projecto militar. A moeda, entretanto, lastreada no ouro que afluía a Portugal vindo da feitoria de Arguim, tornou-se a principal moeda comercial portuguesa durante mais de 80 anos, vindo a ter boa aceitação tanto no mundo cristão como no muçulmano.
No reinado de D. Afonso V, o cruzado de ouro valia 253 réis brancos; em 1472 passou para 324. Posteriormente, em 1489, no de D. João II, valia 380. Em 1496, no de Manuel I de Portugal, valia 390 réis brancos e, em 1517, 400. A sua cunhagem cessou em 1555.
4. O Cruzado de prata
No contexto da Restauração Portuguesa, D. João IV voltou a cunhá-lo em 1642, agora em prata. Sob o reinado de D. Afonso VI, foi mandado cunhar pela Lei de 22 de Março de 1663, com o peso depreciado em 25%, para dificultar a exportação da moeda de prata e para acudir às despesas de guerra. Com um peso de 17,9 gramas e um diâmetro de 37 mm, no anverso trazia a inscrição ALPHONSVS.VI.D.G.REX.PORTVGALI (“Afonso VI, pela graça de Deus, rei de Portugal”) e, no reverso, IN.HOC.SIGNO.VINCES (“Com este sinal vencerás”).
Sob a regência de D. Pedro II de Portugal, as moedas passaram a ser serrilhadas por cunhagem mecânica, visando evitar, com essa prática, que as moedas de ouro e prata fossem cerceadas. Pela Lei de 4 de Agosto de 1688, o seu valor foi alterado para 480 réis.
Novas cunhagens foram promovidas pelo Príncipe-regente D. João em 1808, em 1816 (com erro “VINECS”), e em 1820. O cruzado foi cunhado até à reforma de 1835 por Maria II de Portugal, quando foi adoptado o sistema métrico decimal no país.
5. Real
Somente no tempo de D. Afonso IV, o dinheiro passou a ser conhecido por alfonsim ou real. Alfonsim porque era cunhada pelo rei Afonso, e real porque era a moeda do rei, da realeza portuguesa. Como foi um rei forte ao seu tempo, reinando por mais de 32 anos, o nome se perpetuou. Antes de D. Afonso IV as moedas cunhadas pelos Reis portugueses eram chamadas de dinheiro, porque é o aportuguesamento da palavra denário, moeda romana que ainda circulava na Europa.
Esse dinheiro português era cunhado em uma liga de cobre e prata chamada bilhão. Também cunhava-se uma mealha, na mesma liga, que valia exactamente metade de um dinheiro. A partir de D. Afonso II (1211-1223) não se cunhava mais a mealha, mas manteve-se na prática. Como a mealha valia metade de um dinheiro, quando se precisava de troco, cortavam este em duas metades. Essas moedas de bolhão tinham numa das faces a Cruz da Ordem do Templo. Apesar do real alfonsim, ainda levaria muito tempo para a uniformização do sistema monetário português.
O primeiro real foi introduzido por D. Fernando I cerca de 1380. Era uma moeda de prata e tinha um valor de 120 dinheiros. No reinado de D. João I (1385-1433), foram emitidos o real branco, de 3 ½ libras, e o real preto, de 7 soldos (um décimo de um real branco). No início do reinado de D. Duarte, em 1433, o real branco (equivalente a 840 dinheiros) tornara-se a unidade base em Portugal. Desde o reinado de D. Manuel I (1495-1521), o nome foi simplificado para “real”, coincidindo com o início da cunhagem de moedas de real em cobre. Começou a ser usada a forma “réis” em vez de “reais” no reinado de D. João IV de Portugal (1640-1656), após o período da monarquia espanhola em Portugal, de 1580 a 1640.
6. Escudo
No reinado de D. Duarte apareceu o meio-escudo de ouro, do qual nem o desenho se conhece. No reinado de D. João V cunharam-se também as dobras, múltiplos do escudo. Também nos reinados de D. José I, D. Maria I e D. João VI se cunharam escudos.
O decreto de 22-5-1911 reformou profundamente, sob o ponto de vista técnico, o sistema monetário que vigorava em Portugal, alterando a denominação de todas as moedas, o material, o peso, e as dimensões das moedas de bronze e substituiu, pelo escudo de ouro, o real. Dividido em 100 partes iguais, denominadas centavos, o escudo correspondia, quer no valor, quer no peso de ouro fino, à moeda de 1 000 réis. Como múltiplos, criaram-se moedas de ouro, que nunca se cunharam, de 2, 5 e 10 escudos e, como submúltiplos, moedas do valor legal de 10, 20 e 50 centavos e moedas subsidiárias de bronze-níquel de valor legal de 4, 2, 1 e ½ centavos, as quais, com excepção desta última, vieram todas a ser cunhadas.
Depois de 1914, por virtude da crise provocada pela Primeira Guerra Mundial, o escudo-papel (nota) experimentou uma descida vertiginosa de valor, atingindo a sua menor correspondência em ouro, em Julho de 1924. Desde o segundo semestre de 1926 até Abril de 1928, o escudo sofre nova desvalorização, em consequência de dois aumentos de circulação, do agravamento da dívida flutuante interna e externa e do quase esgotamento das reservas de ouro que o Tesouro Nacional possuía em Londres.
Pelo decreto n.º 19 869, de 9-6-1931, lançaram-se as bases dum novo sistema monetário, para manter a estabilização do valor desta moeda, continuando a ser o escudo de ouro a unidade monetária, mas com um peso inferior, servindo apenas como moeda-padrão.
7. Euro
O euro foi introduzido em Portugal em 01 de Janeiro de 1999, substituindo o escudo da circulação em 28 de Fevereiro de 2002, com as moedas em escudo sendo trocados por euros até 31 de Dezembro de 2002.
Outras moedas portuguesas menos importantes
Espadim
Foi cunhada por João II de Portugal a partir de 1489. O cronista e poeta Garcia de Resende refere que foi lavrado em memória da conquista portuguesa de África, “que sempre se fez com a espada na mão”, algo muito comum na época mesmo (e principalmente) no front árabe-asiático (islâmico) da conquista da África Subsaariana e Saheliana pelos povos da Eurásia e Norte de África (mais avançados militarmente e melhor organizados). Foi cunhado em ouro – espadim de ouro -, e prata – espadim de prata.
Ceitil
O ceitil foi uma moeda portuguesa criada no reinado de D. Afonso V. A sua designação tem origem no nome sextil, ou seja, um sexto. O seu valor passou de 1/5 de real branco a 1/6 de real, havendo pistas para a uma desvalorização até 1/7 de real em finais do século XV.
Tornês
Tornês (em italiano: tornese/tornesello; em francês: tounois) foi uma moeda de prata da Europa da Baixa Idade Média e começo da Idade Moderna que originou-se no sul do Reino da França. O seu nome deriva do dinheiro emitido em Tours (em francês: denier Tournois) pela Abadia de São Martinho antes da anexação de Turena por Filipe II (r. 1179–1223) em 1206. Após esta data, o tornês passou a ser cunhado por todo o Reino da França com um característico “castelo” estampado. Esta moeda seria imitada em larga escala pelos Estados francos dos Bálcãs e Grécia e pelo Império Bizantino entre meados do século XIII e meados do XIV. O tornês também foi uma moeda corrente no Reino de Portugal durante o reinado de Dinis I (r. 1279–1321) e nela fora incorporada a Cruz de Avis e uma típica inscrição latina de louvação.