Arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco não acreditavam no que haviam encontrado. Ao sul de Macapá, às margens do Rio Mutuacá, ruínas de um projecto colonial, organizado e modesto, envolvendo traçados de ruas, campas colectivas e alicerces de uma igreja surgiram a seus pés. As construções, encravadas na Floresta Amazónica, foram descobertas em 2003.
A História do Brasil acabava de ganhar um novo capítulo: Mazagão, a fortaleza que atravessou o Atlântico na tentativa de renascer feito fénix do outro lado do mundo.

Depois do enorme terramoto de 1755, que também afectou a cidade portuguesa de Mazagão, na costa Africana, a coroa portuguesa viu-se obrigada a abdicar da praça-forte por dificuldades económicas para a recuperar e pelos constantes ataques dos muçulmanos.
Decidiu-se então mudar todos os colonos da cidade para o interior da Amazónia e fundar aquela que seria a Nova Mazagão, hoje conhecida por Mazagão Velho.

Entre os anos de 1770 e 1773, fidalgos portugueses (cerca de 2 mil pessoas distribuídas em 470 famílias) exilados pela invasão muçulmana da Vila de Mazagão, no Marrocos, desembarcaram em Belém do Pará com o objectivo de reconstruir, na foz da Bacia Amazónica, no Amapá, sua cidade-forte.

O povoado também serviria de apoio táctico à expansão territorial pelo interior do país. No entanto, bastaram alguns anos e, em 1783, o plano de reconstrução seguiu rio abaixo. A obra, cópia da versão africana, não resistiu às condições hostis da América portuguesa.

O fascínio por trás da odisseia de Mazagão é tão grande que inspirou lendas e festas regionais, como a de São Tiago, que trata de batalhas travadas entre portugueses e mouros, ainda mais difundida depois das recentes descobertas no meio da floresta.

Trata-se de uma história muito importante não apenas para a cultura do Brasil como também para Portugal e Marrocos, pois dessa forma podemos entender um pouco mais sobre o passado comum a esses três países.